O processo de luta dos povos indígenas do Brasil, a partir
da década de 70 teve como protagonistas importantes os índios Xavante, do Mato
Grosso. O despertar desse povo para a luta pelos seus direitos, se deve em
grande parte ao processo das Assembleias
Indígenas que começaram acontecer a partir de abril de 1974.
No bojo desse movimento indígena emergente, surgiu uma promissora dinâmica de visitas e
gestos de solidariedade entre os povos originários no Brasil. Estava o porão da
casa paroquial de Xanxerê quando chegaram um indígena Bororo e um Xavante,
enviados pela Assembleia Indígena, para conhecer de perto o sofrimento,
violências, invasões das terras e roubo dos recursos naturais, principalmente
dos povos indígenas do sul do país e do Mato Grosso do Sul. Era outubro de
1975. Estava em curso um novo momento em
que a emergência e luta pelos direitos dos povos indígenas dando visibilidade
às violências e negação de direitos dos
povos originários, que estavam condenados ao extermínio, com prazos e datas
marcadas pelos seus algozes, as elites genocidas deste período. E os maiores
protagonistas dessa resistência e luta foram sem dúvida os Xavante.
Diante do que viram e sentiram,, os dois Xavante e um
Bororo, após a visita, solicitaram que defendessem as suas terras contra
qualquer tipo de invasão. E se precisassem era só mandar um recado que eles desceriam
com 500 guerreiros Xavante para
ajuda-los.
Lideranças Xavante como Aniceto que foi o porta Voz dos
povos indígenas no momento em que foi pedido ao
então presidente Geisel que fosse rasgado o projeto da Emancipação,
que na verdade era a liberação das
terras indígenas para o latifúndio, tiveram um papel de destaque nas lutas dos
povos indígenas do Brasil. Também teve destaque a eleição de Mario Juruna
Xavvante, pr ser o primeiro indígena eleito deputado federal.
Vejamos um relato de José Tsonopré, de São Marcos “Em 1972,
uma vez fomos na casa de intruso. Mandamos retirar os materiais dele para fora
de casa. Ele chegou e reuniu os
empregados dele pra atacar nós. Depois disso os índios quase não parava em
casa. Todo o dia vigiando a reserva. Então eles viam o pessoal nosso reunidos
em armas. Nós mesmos limpamos, engraxamos rifles e vigiamos a noite inteira até
amanhecer. Com o medo que eles tem, voltaram atrás. Então fazendeiro arrumou
metralhadora. Nós fomos a Cuiabá, avisamos delegado. Então a polícia cercou a
fazenda e tirou tudo. Não aconteceu briga e eles saíram. Para a defesa de nossa área devemos
ser unido. Unido resolve mais fácil” ( Boletim do Cimi n. 24, outubro/dezembro
1975)
E a solidariedade do povo Xavante a outros parentes pelo
Brasil afora foram se multiplicando na medida em que as situações de violência
e exploração foram sendo visibilizadas.
Mario Juruna Xavante
foi também visitar os índios do Mato Grosso do Sul. Ficou indignado e escreveu
um relatório nos seguintes termos:
“Eu Mario Juruna
chefe da comunidade Xavante da aldeia de
Namucurá, no Norte do Mato Grosso, vim
visitar os índios que moram no sul do Mato Grosso para ver como que eles estão vivendo, se estão sendo
ajudado e que problemas eles estão passando.
No dia 27 de novembro d (1979) visitei os índios Kaiowá liderados pelo
“capitão” Lidio, que moram na fazenda Mate Laranjeiras, e fiquei muito
triste de ver a pobreza que eles estão vivendo. Eles vivem preso que nem gado
em piquete, na entrada da fazenda o
gerente colocou cadeado, assim ninguém visitar índio, nem Funai, nem pessoal da
igreja, nem imprensa, assim ninguém vê
que índio tá vivendo como verdadeiro escravo...
Depois fui visitar mais índio Kaiowá que mora na
terra ocupada pela fazenda. Paraguassu. E fiquei mais triste com dor no coração
de ver bastante famílias de índios vivendo pela beira das estradas nas terra da
fazenda, que nem escravos vivendo com as crianças em barraquinha coberta de
capim, com plástico preto, que nem mendigo favelado que eu vi em São Paulo e no
Rio de Janeiro. Transcrito do
relatório manuscrito,( 4 páginas) Dourados 29 de novembro de 1979)
Na década
de 70 e 80 os Xavante protagonizaram lutas expressivas de conquista de seus
direitos, especialmente seus territórios. Por diversas vezes derrubaram
presidentes da Funai e funcionários indesejados. Tiveram participação
importante nas lutas coletivas e no movimento pan indígena das décadas de 70 e
80. Vale lembrar o cacique Aniceto que foi o parta voz dos povos indígenas do
Brasil por ocasião do não ao projeto de emancipação. Igualmente relevante foi a contribuição nas lutas do
único indígena eleito deputado federal até hoje em dia.
A recente
luta de Marawatsede trouxe de volta o brio e a coragem guerreira deste povo.
Agora os Xavante de Parabubure estarão novamente trazendo a luta dessa
comunidade pela sua terra.
A vitória
será um alento e esperança para os povos indígenas no início de mais um ano.
Secretariado
Cimi
Egon Heck
Fotos: Laila/Cimi
Brasilia, 8 de fevereiro 2.018
Nenhum comentário:
Postar um comentário