ATL 2017

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quarta-feira, 26 de abril de 2017

A repressão e a sabedoria



 “Vamos fazer a guerra com a nossa sabedoria”, expressou uma das lideranças indígenas presentes no 14 Acampamento Terra Livre  que está se realizando em Brasília.  Contra a crueldade de mais de cinco séculos de invasão, extermínio e genocídio, só a sabedoria, forjada na resistência e guerra permanente possibilitaram a sobrevivência dos 305 povos indígenas nas terras brasiiis.



Ontem o  Estado brasileiro proporcionou mais um desses atos que envergonham o nosso país, levando aos tribunais internacionais, no banco dos réus.  Agiu contra os mais de três mil indígenas que foram manifestar diante do Congresso,  suas indignações e temores. Foram, de maneira especial dizer às autoridades, ao Brasil e ao mundo,  que não mais suportam tamanhas agressões, crueldades e violências. Foram exigir respeito e o fim das atitudes de colonialismo e repressão contra os povos primeiros dessa terra.
No seminário sobre os Direitos Originários dos povos indígenas, realizado pela Procuradoria Geral da República, o coordenador da 6ª Câmara, Dor. Luciano Maia, demonstrou como o Estado Brasileiro tem sido o maior violador dos direitos indígenas. Aí reside o maior desafio para os povos indígenas e seus aliados.

O Brasil plural se insurge – nada a temer



Enfrentamos uma das piores conjunturas para os povos indígenas, as populações tradicionais, os movimentos sociais e o  meio ambiente. Vivemos um dos piores momentos das últimas décadas, particularmente após o processo constituinte de 1988. Uma série de mortíferos PLs e PECs, Portarias e decretos estão no gatilho, espreitando o exato momento de disparar  a partir  entapetados e esterilizados ambientes do poder, da corrupção e da opressão. O Estado brasileiro que nunca admitiu e respeitou a pluralidade de povos e nações, vozes e rituais, organizações sociais e formas de Bem Viver,  mostra seus dentes carcomidos pelos séculos  de colonialidade  e crueldade contra os povos originários.

Demarcação Já – nenhum direito a menos




Uma das exigências Expressas com unanimidade pelo movimento e comunidades e povos indígenas é o imediato reconhecimento e demarcação das terras/territórios indígenas. Esse processo de paralização das demarcações já  iniciou no governo anterior, e não apenas permanece, como recrudesce em  função das prioridades de um projeto desenvolvimentista absolutamente anti indígena. Trata-se de uma cabal afronta à Constituição e legislação internacional, do qual o Brasil é signatário.


Conforme levantamentos realizados pelo Cimi ainda existem mais de 352 terras indígenas sem nenhuma providência 352, a identificar 175  e 398 registradas, de um total de 1.116 terras indígenas . Estamos, portanto diante de um gravíssimo quadro,  pairando sobre esse direito sagrado e primordial ameaçadoras nuvens de incertezas e retrocessos.


Momentos fortes da luta

Os duros e longos caminhos da autodeterminação e autonomia dos povos indígenas no Brasil e no continente vão sendo trilhados e forjados, com sabedoria e  resistência milenar. Como disse  o antropólogo Meliá “Os caminhos dos povos indígenas serão os nossos caminhos de futuro”.
É preciso mudar nossas mentes e nosso espírito eivado de colonialidade para darmos espaço para  os projetos de autodeterminação e Bem Viver dos povos indígenas. Será preciso ousadia e esperança, persistência e coragem revolucionária, sonhos e utopia. Um novo projeto de humanidade é possível, necessário e urgente. Que saibamos, com os povos indígenas, galgar essa montanha de obstáculos, repressão e negação de direitos.
Que esse Acampamento Terra Livre  Faça avançar a união na luta dos povos indígenas e a aliança sempre maior entre todos os que lutam pelas mudanças e transformações profundas em nosso país e na Ameríndia.
 Enquanto isso as vozes e rituais plurais conclamam todos os povos para consolidar a união. Unidade na diversidade, com os encantados, deuses e guerreiros, todos presentes no apoio à luta pela vida, pelos direitos, pelos territórios e pela justiça.
Muitos olhos arderam, muita respiração ficou dificultada com mais um espetáculo de bombas e sprays  covardemente lançadas pelo poder opressor contra as raízes profundas do Brasil plural.


Egon Heck – Fotos Laila Menezes
Cimi, Secretariado Nacional

Brasília, 26 de abril de 2017