ATL 2017

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domingo, 19 de fevereiro de 2017

Maluco beleza

Fala com as árvores e faz pactos de não agressão com as cobras. Cuida com especial zelo da natureza, das árvores. Tem como costume todo dia encher três garrafas de água e sair pela mata para matar a sede  de algumas mudas das quais cuida com especial carinho. Vive na floresta, em barracos ou trailers. Não tem casa. Quem sabe um dia. ..




Jaci não é  um "cidadão normal", do comum dos viventes que se auto-identificam como racionais. Razão pela qual nos foi apresentado como "doido". Ele veio passar as festas de final do ano em companhia com o silêncio e sua consciência e busca, num momento difícil, em que, já com a saúde fragilizada, gostaria de fazer o máximo possível para que a sua vida doada a vidas em mais de 40 anos não fosse destruído em um piscar de olhos, depois do final de sua longa viagem pelo cerrado, pela Cachoeirinha, em Goiás.

Trata-se de uma figura extraordinária, com uma experiência de vida formidável e duma coerência invejável. Percorreu várias partes do mundo e com especial carinho partilhou tempo de sua vida na Austrália onde surgiu a "permacultura", como sabedoria de harmonizar a vida/natureza  ajudando na produção e recuperação do solo, através da utilização das folhas, das podas temporárias.
Ele tem razões de sobra para estar preocupado com os caminhos e descaminhos da humanidade. Sua grande preocupação pela rápida deterioração das condições de vida no planeta Terra. As rápidas e inexoráveis mudanças climáticas, envenenamento da terra e das águas,  aceleração de fenômenos como temporais, seca, enchentes.. tudo isso exige mudanças de rumos urgentes. Do contrário poderemos todos nos transformar em vítimas de catástrofes naturais, ou vinganças da natureza.

As belezas do "maluco Jaci"




Tivemos momentos memoráveis de silêncios e partilhas.  Ao andarmos entre as plantas nativas do cerrado do Centro de Formação e Resistência Vicente Cañas, ele foi detalhando as propriedades terapêuticas de cada uma delas e as preciosidades presentes em cada árvore. Alertou para as possibilidades de melhor aproveitamento das folhas e da necessária coleta das águas das chuvas.  Além da importância de instalar um sistema de energia solar, pois, arrematou "afinal de contas aqui é um centro de formação para alternativas e não se trata de formação do agronegócio".

Mostrou-se interessado em conhecer as belezas de Terra Ronca. Combinamos em convidá-lo para nos acompanhar numa das próximas viagens. Também nos interessamos em conhecer a  reserva de conservação da Cachoeirinha.



Ao nos despedirmos deixamos  no ar o grito "que venham mais e mais malucos e quiçá  o mundo não se acabará.

Egon Heck
dezembro de 2016

PS. Num encontro posterior Jaci nos contou que agora já não mais o chamam de louco, mas de "o velho da mata". Que também voltou a insistir na importância de  plantar mais alimentos para os lobinhos que moram nesta região, além dos muitos animais que vão sendo expulsos de seu habitat, com a devastação da mata.