ATL 2017

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domingo, 27 de novembro de 2016

Povos Indígenas: Estado de alerta!




Representantes de vários povos e de comunidades tradicionais, mal estão chegando em suas casas e aldeias e são convocados para um estado de alerta. Suas mentes ainda estão tomadas com as fortes imagens e sentimentos do spray de pimenta nos olhos, os longos rituais diante da porta do palácio  do Planalto  fortemente  protegido,  impedindo qualquer entrada para o diálogo pretendido.




Os poderes e os poderosos  ficam ouriçados e alvoroçados quando os povos originários pintam seus corpos e armados com seus direitos   rumam para Brasília,  Sabem que serão controlados, revistados e ameaçados. Porém nada disso os intimida ou faz desistir da luta, da guerra. Afinal de contas apenas exigem seus direitos “nenhum direito a menos”.

Hoje lideranças indígenas participantes do Conselho Nacional de Política Indigenista, foram surpreendidos por mais uma inciativa cínica e letal do governo: foi anunciado  mais uma vez uma pretensa reestruturação da Funai. O governo passa a ser porta voz do que está em curso, a partir da bancada ruralista: a extinção da Funai. Ou melhor, já é, conforme essa bancada, a apresentação do atestado de óbito.


Desde a criação da Funai, durante a ditadura militar, em 1967,  ela tem sobrevivido em estado de reestruturação permanente, sempre a partir dos interesses anti indígenas.  Foram criadas inúmeras comissões de estudo, feitas experiências desastrosas. Sempre sem consulta ou diálogo com os povos indígenas e suas organizações. Sempre a partir de pressões de interesses nos territórios indígenas e seus recursos naturais.  O general Rangel Reis, então Ministro do Interior, a quem estavam submetida a Funai, chegou a fazer a projeção de um Brasil sem índios, até o ano 2.000.




Ontem celebramos os 33 anos do assassinato de Marçal Tupã’i. Dezenas de lideranças Guarani já foram assassinadas neste período, na total impunidade. Cadê os corpos do professor Rolindo e do cacique Nizio Guarani Kaiowá? Continuam ocultados pela ignomínia e barbárie que se instalou no Mato Grosso do Sul, contra os povos indígenas. “Esses massacres, genocidas serão um dia cobrados pelos Guarani, conforme diz a canção em homenagem ao martírio de Marçal.

Lembro também, com muito carinho, os 250 anos do  assassinato de Sepé Tiaraju e seus guerreiros Guarani, como diz a canção “Quando o exército de Espanha e Portugal chegou aqui, pra expulsar dos sete povos toda gente  Guarani, Tiaraju que era cacique reuniu seus guerreiros e sem medo dos canhões atacou só com lanceiros”.





Só é possível compreender esses séculos de resistência desse povo se nos colocarmos em sintonia com a profunda religiosidade e espiritualidade, vivenciada nas aldeias, nas beiras de estrada, nas retomadas e nas situações de adversidade extrema.

E neste rol de mártires e lutadores da justiça em nosso país e na  Ameríndia, presto homenagem a Ir. Antônio Secchin, Fidel Castro,Zumbi, Vicente Cañas, dentre os milhares de guerreiros que tombaram por defender seus povos e buscarem a justiça, a paz e a solidariedade.
Lutar não foi em vão! Neste final de ano, mais uma vez as constantes ameaças a seus direitos exige que se mantenham mobilizados para não serem surpreendidos com a supressão de seus direitos constitucionais.

Texto e fotos: Egon Heck
Cimi  Secretariado Nacional
Novembro, 2016