ATL 2017

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domingo, 28 de agosto de 2016

Juventude Indígena na luta





Não dá para titubear. O momento é delicado e complexo. Exige clareza política e ousadia na luta. É com essa determinação que os jovens indígenas vem se engajando cada vez mais na luta pelos direitos de seus povos, particularmente na reconquista e garantia de seus territórios e autodeterminação a partir de seus projetos de Bem Viver.

Quem acompanhou as lutas dos povos indígenas, mormente nas últimas quatro décadas,  certamente ficou impressionado com os processos de envolvimento crescente  da juventude indígena nesses processos complexos de resistência e afirmação de suas identidades enquanto povos originários desse país. Eles tem  defendido com determinação e galhardia seu espaço na luta e vida das aldeias e comunidades, apesar dos enormes desafios que enfrentam no dia a dia.
Nailton Pataxó Hã Hã Hai, tem insistentemente ressaltado o papel fundamental que os jovens de seu povo desempenharam, na reconquista de seu território. E e por essa razão que não se cansa de desafiar e convocar a juventude indígena a não apenas continuar participando, mas ampliar  e qualificar essa presença nas lutas.  Em função desses desafios que ele e inúmeras lideranças tem insistido na importância da formação politica dos jovens indígenas.   Estes, por sua vez vem forjando processos importantes na perspectiva de troca de experiências e articulação  em nível mais amplo, nacional e internacionalmente.

Lembro que a liderança Kaingang, Nelson Xangrê, que liderou com muita sabedoria, ousadia e astúcia as ações de expulsão mais de dez mil invasores e colonos assentados pelo governo  Estadual  da Terra Indígena Nonoai no Rio Grande do Sul. Após esse memorável feito Xangrê manifestou sua preocupação e desejo “Agora que reconquistamos nossa terra está reconquistada, precisamos  urgentemente dar formação a nossos jovens para reconstruir nossa subsistência e economia, bem como iniciar imediatamente um processo de recuperação da terra e reflorestamento”. Infelizmente nesse aspecto ele não teve o mesmo sucesso do que na desocupação.

Juventude indígena: ampliando as lutas e esperança




Em apoio a essas demandas o Cimi tem, desde maio deste ano, apoiado a realização de encontros regionais e macrorregionais da juventude indígena. Em quatro Seminários regionais realizados em Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul e Manaus, teve a participação de 1.159 indígenas de 58 povos de 15 Estados. E nesses dias de 23 a 27 de agosta está se realizando o Seminário Nacional de Juventude  Indígena no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia.
As cartas e documentos elaborados nos quatro Encontros regionais dão a dimensão dos desafios enormes enfrentados hoje pela juventude indígena em nosso país. Os desafios maiores giram em torno da retomada e reconquista dos territórios dos povos originários. E não é apenas ter alguma segurança jurídica, pois constantemente são invadidos e agredidos pelos interesses do agronegócio e elites econômicas e políticas. E as maiores vítimas de todos esses processos acabam sendo os jovens que são assassinados e violentados, encontrando como saídas extremas o suicídio.

Os jovens reunidos em Manaus denunciaram as violências e injustiças quw sofre “Atualmente estamos sofrendo violências e violações de nossos direitos constitucionais.  Buscamos justiça pela vida, fortalecendo nossos costumes, crenças e tradições protegendo nossas terras e territórios. Não queremos a criminalização das nossas Lideranças, a exploração de nossas terras, rios, florestas e lagos, denunciamos o massacre dos nossos povos, e a postura colonialista do governo e do Estado. Diante dessa realidade expressam seu grito de rebeldia e vida.




“estamos aqui, estamos vivos, nós somos, vivemos nossas culturas, somos povos , nossa  existência está aqui ainda, temos nossa  força, não são vocês que vão nos derrubar, viemos para somar, pois juntos somos mais.”

Os mais de 300 jovens Kaiowá w Guarani assim afirmaram sua disposição de luta “Nascemos na luta e da luta não sairemos. Hoje sabemos como o Estado e o Governo agem contra nosso povo pois sofremos o descaso que praticam contra nossa juventude que fica abandonada na beira de estradas. Hoje sabemos o que são os ataques paramilitares pois somos nós que morremos Afinal quem foi Simião? , quem foi Clodiodi? Antes de mais nada eram jovens, cheios de sonhos e vontades de vida como cada um de nós. É por eles que lutamos e lutaremos. A memória deles segue viva na criação de nosso conselho da RAAJ (Retomada da Aty Guasu Jovem). Não admitiremos mais que nenhum de nossos jovens tombem e desde já nos colocamos  na luta pela justiça e pela punição dos assassinos.”

Os jovens do Nordeste fizeram um grande encontro com mais de 400 participantes, onde afirmaram que “O fortalecimento da organização da juventude foi apontando como uma das principais necessidades do movimento de luta indígena no Nordeste, para garantir a posse e permanência nos nossos territórios, partindo dessa realidade os jovens representantes dos povos presentes nessa assembleia criam um grupo que tem como finalidade articular a base para a criação de uma comissão de juventude a nível regional. Assim afirmamos é golpe mas não é NOCALTE. E diga ao povo que avance. AVANÇAREMOS!     
            
No Encontro da Bahia, os jovens expressam sua disposição de continuar lutando:”      Movidos pela nossa herança ancestral, que nos fortalece e nos conduz na busca de uma Terra sem Males, e nos faz reafirmar o compromisso e a responsabilidade de continuar nosso processo de luta contra o Estado brasileiro e contra todos os nossos inimigos, que, com posturas colonialistas, continuam nos roubando, nestes 516 anos, negando nossos direitos, saqueado nossas riquezas naturais, dificultando a manutenção dos nossos projetos de Bem Viver e tentando negar a construção do nosso futuro.

Depois de dois dias de debate e reflexão a partir dos posicionamentos assumidos nas regiões, os jovens indígenas se propõem a Fortalecer a organização da juventude indígena em  nível local, regional e nacional, promovendo momentos de formação política e jurídica, construindo uma agente específica e construindo a realização de uma Marcha Nacional dos jovens indígenas.
Ao concluir seu documento os jovens do encontro da Bahia se unem a tdos os jovens indígenas afirmando “Queremos honrar os nossos compromissos e fazer jus ao tema do seminário, “Herdeiros da história e guerreiros da luta”: ao som dos nossos maracás, olhando e valorizando o nosso passado e fortalecendo o presente, para construir o futuro.”

Egon Heck
Cimi Secretariado Nacional
Brasiia 26 de  agosto de 2016