Mais uma vez se travou “simbólica e fisicamente”, a batalha
dos povos indígenas com seus maracás,
pinturas e indumentárias, contra as hordas de gravatas em seus pedestais de
prepotência, arrogância e ganância.
Imaginava-se que nas ondas de superação do colonialismo
interno, as gravatas travariam um diálogo respeitoso com os maracás, desde a
portaria até a despedida, já na noite avançada. Mas não foi desta vez. Várias
lideranças indígenas fizeram alusão a mais uma decepção: “Sai presidente, entra
presidente, campeia a corrupção e nenhum sinal de que um dia será diferente, de
igual para igual, na casa do povo”.
No portão, de plantão os cassetetes tentaram demonstrar
gentiliza e esforço no podre dorso da repressão. Tirem a placa da “casa do,
para contra o povo” chegaram gritar alguns mais exaltados. Nada de novo abaixo
da linha do Equador. Após espera e muito bate boca, quase duas centenas de
indígenas adentraram, em ritual, nas dependências da Câmara dos Deputados.
Outros setores sociais continuaram impedidos de entrar.
Houve ocupação do plenário por sindicalistas que protestaram contra a entrega
do pré-sal ao capital estrangeiro. Foi um dia de correria e agito, com o
impedimento de Dilma rolando num espaço, e projetos polêmicos e golpistas
cavalgando em outro. Mais uma vez se
repetia o ditado e canção popular da época da ditadura militar: “Os podres
poderes tem medo de cheiro de povo”.
E assim povos indígenas de várias regiões do país
comemoraram seu dia, com denúncias e
veementes manifestações contra o
golpismo ruralista em curso e a violência e criminalização. das lideranças dos
movimentos sociais, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais. No
encontro com o presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia, este prometeu não prorrogar a CPI da Funai e do
INCRA(cujo prazo de funcionamento termina esta semana) e de que não colocaria
em debate e votação em plenário, a PEC
215.
Ontem foi a vez de entregar um documento na
embaixada da Alemanha lembrando as principais violências contra os povos
indígenas no Brasil, em consequência da política dos ruralistas, que são os
mesmos que exportam suas commodities a dezenas de países, dentre os quais, a
Alemanha.
Sai de baixo que vem
lama e morte
Uma das notícias que tem causado grande preocupação entre os
povos indígenas e seus aliados, é a de que o governo em breve enviaria ao
Congresso três projetos sobre mineração. Quem viveu, como os Krenak, na lama de
Mariana, a irresponsabilidade criminosa das mineradoras, irá entender
facilmente o horizonte de ameaças e mortes que os povos originários têm pela
frente. As mineradoras mundiais e
nacionais estão assanhadas, nas portas das terras indígenas, aguardando
avidamente a abertura das terras/territórios desses povos para o saque, deixando para traz os rastros de
lama, violência e morte.
Nunca é demais lembrar a destruição e extermínio causado aos
povos originários e à natureza, desde o início da invasão, há mais de cinco
séculos. Várias terras indígenas, especialmente na Calha Norte do rio Amazonas,
estão totalmente loteadas para prospecção e lavra de petróleo. O que será dos
Yanomami, dos Waimiri Atroari, povos do Rio Negro, do Vale do Javari e da
centena de grupos/povos isolados?
No momento em que no mundo inteiro se questiona e denuncia a
ação nefasta e destruidora da mineração, o usurpador governo interino, de forma
inescrupulosa e celeremente, avança com projetos de morte. E os povos indígenas
serão as maiores vítimas dessas iniciativas do grande capital nacional e
multinacional.
União, resistência e
permanente mobilização
Os povos indígenas e as comunidades e povos tradicionais
deram passos importantes na construção de alianças e união na luta por direitos
e contra as ameaças de retrocesso e desconstrução de direitos constitucionais
conquistados com muita luta e sangue derramado.
Será com a força de todos os guerreiros, com a proteção dos
deuses, dos encantados e da mãe terra, com a união da grande maioria dos
empobrecidos, dos excluídos e dominados,
da diversidade de povos e culturas, que irão construir um novo mundo, a partir
dos projetos de Bem Viver, com a
superação do capitalismo, do colonialismo, do racismo e dos projetos de morte e
destruição.
A palavras que mais foram ressaltadas, nesta semana de
mobilização dos povos indígenas em Brasília, foi a necessidade de ampliar a união e alianças para garantir
uma mobilização permanente não só para evitar perda de direitos e retrocesso,
mas para avançar na perspectiva de construção da sociedade do Bem Viver.
Egon Heck fotos:
Laila/Cimi
Cimi Secretariado Nacional
Brasília, 11 de agosto de 2016.