ATL 2017

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segunda-feira, 11 de abril de 2016

O Brasil dos nossos sonhos




Dificilmente a questão indígena não será contemplada na agitação dessa semana em Brasília. O que estamos presenciando é uma forte disputa de poder e não de modelo de governo e Estado. E isso decididamente não faz parte da pauta de lutas pelos direitos indígenas. Na melhor das hipóteses devemos marcar presença contra possíveis retrocessos e retirada de direitos constitucionais de minorias como os povos e comunidades tradicionais.





Nos 44 anos de militância junto aos povos indígenas, da maioria das regiões do país, a convicção que em mim amadureceu é a de que de fato não existe espaço de sobrevivência e dignidade para os povos indígenas no atual modelo neoliberal. E isso em toda nossa Ameríndia e certamente no mundo inteiro. Os povos nativos estão empenhados em contribuir com sua sabedoria milenar e projetos concretos de sociedade, para salvar nossa casa comum, o planeta terra.

Nos últimos 12 governos do PT, desde a ditadura militar civil, de 1964, seguida de regimes autoritários de imposição de modelos desenvolvimentistas, em nenhum momento se viu sequer a disposição de cumprir a lei que estabeleceu direitos indígenas, como o Estatuto do Índio, de 1973, da Constituição Federal de 1988 e da legislação internacional, como a Convenção 169 da OIT e a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, da ONU. A prova mais cabal é a não demarcação e respeito das terras/territórios indígenas.

Se de um lado e outro da linha imaginária da disputa estiverem povos nativos originários, certamente não será para se somar aos gritos de “Impedimento já” ou “Golpe não”, mas será para lembrar aos dois lados de que os povos da secular resistência apontam para além da disputa do poder, lutam por modelos de Bem Viver, reconhecimento da plurinacionalidade de nossos países, para a democracia das aldeias, do consenso, do poder como serviço e não fonte de violência e corrupção.

“Alea jacta est” (a sorte está lançada).

Haverá disputa ferrenha no parlamento, nas ruas, na mídia. Acusações recíprocas cruzarão os céus como flechas incendiárias. É lamentável que tanta energia seja jogada ao léu, quando poderia ser canalizada para transformações profundas, urgentes e radicais, necessárias neste momento de nossa história. É lastimável que se estimule o ódio, a discriminação, o preconceito, em nome de escusos privilégios ou alienadas expectativas imediatistas e consumistas. É hora de termos além de consciência política, grandeza de espírito e coração generoso. É nessa direção que vai a contribuição dos povos nativos e seus aliados neste país.

Estamos em pleno abril indígena. Costumeiramente é o momento de mostrar ao país e ao mundo as violações dos direitos indígenas, as suas lutas e seus sonhos. O sonho de um país plural, que respeite e valorize os diferentes, os valores e sabedorias seculares, onde reine a justiça e seja banida a corrupção e violência.




Nossa América Latina já tem dado passos importantes em direção à construção de modelos de governos e Estados que deem conta das importantes realidades, da diversidade sócio cultural e das relações e direitos da Mãe Terra, a natureza tão violentamente maltratada e celeremente destruída.
Um país passado a limpo. Refundar o país.  Essas têm sido atitudes corajosas de nossos irmãos em países do continente. Quem sabe essa bandeira possa mobilizar milhões de brasileiros que estejam dispostos a forjar uma nova história, construir o Brasil de nossos sonhos.

Que os espíritos guerreiros e os encantados nos acompanhem para além dessa semana.


Egon Heck
Cimi Secretariado

Brasília, 11 de abril de 2016.