Tudo começou há mais de cinco séculos. Quando o ávido
Cabral já estava meio desanimado de chegar às Índias, foi surpreendido por um monte.
Não se conteve e gritou: Terra à vista!” Lá em terra, do alto do Monte Pascal,
os índios Pataxó também gritaram: “invasores à vista”. Depois daquele instante
fatídico, não tiveram mais sossego. A invasão se consolidou e a violência só
aumentou! Os Tupinambá forma exterminados aos milhares. Só a resistência,
sabedoria e espírito guerreiro é que possibilitou a sobrevivência.
Hoje, uma delegação de 44
caciques e guerreiros estão novamente em Brasília. A capital federal, no
planalto central, ainda meio sonolenta, com as pernas bambas, depois de um
longo recesso que se prolongou até depois do carnaval, aos poucos vai retomando
suas lutas e disputas políticas. Os índios não poderiam estar ausentes. E
simbolicamente refazendo os caminhos da resistência, os Pataxó e Tupinambá são
a primeira delegação neste início de ano a chegar em Brasília. Além de algumas
agendas e denúncias sofridas nos últimos dias e anos, também estarão lutando
contra a PEC 215, o PL 1610, o sucateamento da Funai, a portaria 303 da AGU e
outros projetos anti-indígenas em pauta no Congresso e no Executivo.
Neste início de 2016, eles foram
vítimas de contínuas violências ligadas particularmente às suas lutas pela
terra, retorno a territórios tradicionais (retomadas) e questões de terras que
vão se arrastando por anos e décadas. É
um longo e secular calvário
.
De cabeça erguida
Diante da conjuntura
agressivamente anti-indígena, as reações nos debates não foram desanimadoras,
pelo contrário, quanto maiores os desafios, mais cresce a união e a
resistência. “Não podemos esmorecer, baixar a cabeça. Pois é isso que nossos
inimigos querem. A situação não está brincadeira. Somos vigiados 24 horas por
dia. O governo quer acabar com nós índios. Somos povos resistentes e nos
reforçamos com Deus, presente em nossas lutas. A batalha vai ser grande. Mas não vamos baixar a cabeça.
Espancaram guerreiros nossos, prenderam e nos ameaçam permanentemente. Estamos
em luta pelos nossos direitos”, afirmou
com firmeza e convicção um dos caciques.
Desta vez veio um número
expressivo de jovens, que, segundo os caciques, têm que ir assumindo a luta,
pois os velhos caciques já estão com menos forças. “A juventude não é o amanhã,
é o agora”.
A mãe terra está gritando
“Os povos indígenas estamos
gritando pela mãe terra. Temos uma preocupação grande com a mãe terra. Ela está
gritando. Os rios estão secando, as matas sendo derrubadas, as fontes
envenenadas. Não estamos sendo ouvidos. É uma tristeza”, lamentou um dos
caciques.
Eles reconhecem que o aumento da
confecção de artesanato está levando comunidades indígenas a também
pressionarem e destruírem a floresta. Precisam discutir alternativas econômicas
menos agressivas à natureza.
“Sendo que, a
Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá [FINPAT] está mobilizando uma comitiva
de 44 caciques e lideranças das etnias Pataxó e Tupinambá, em viagem a
Brasília, com objetivo de dialogar com autoridades do Governo Federal, na
perspectiva de soluções nos processos de regularização fundiária das Terras
Indígenas da região. Assim como, lutar pela defesa dos Direitos Indígenas,
fortalecimento do órgão indigenista brasileiro e políticas de ações de
desenvolvimento social”.
Em carta aberta à população, o movimento de articulação do
povo Pataxó manifesta ”esperança de termos nosso direito territorial
reconhecido após a publicação do estudo para demarcação no diário oficial da
União no final de julho, [que] deu lugar ao medo e temor constante. Estamos
sendo vítimas de agressões verbais, físicas, constrangimentos diariamente, e
principalmente sentindo um completo abandono dos órgãos do Estado que tem o
dever de garantir a ordem e a paz”.
Texto: Egon Heck
Fotos:Laila Menezes/Cimi
Cimi Secretariado Nacional
Centro de Formação Vicente Canhas, 22 de fevereiro de 2016