Fortes ventos quentes sopram sobre Palmas. As
aldeias se agitam na ansiedade de realização de mais um grande momento de luta
pelos direitos indígenas dos povos da região Goiás Tocantins.
Os tempos não são fáceis. As violências e
ameaças são cada vez maiores
Enquanto o país se afunda sempre mais numa
profunda crise social, política e econômica, capitaneada pelas revelações de
corrupção e maracutaias as mais diversas, os Povos Indígenas de Goiás e Tocantins, realizarão a
3ª Grande Assembléia. Irão socializar suas lutas e debater os principais desafios que enfrentam
hoje. No horizonte, para além do azul do céu, desenham-se monstros vorazes
dispostos a devorar os sonhos e esperança dos povos originários em luta pelos
seus direitos.
Os povos indígenas
desta região têm uma longa tradição de luta por seus territórios e direitos. Já
na década de 70 enfrentaram os invasores de suas terras e nas décadas seguintes
tiveram que lutar contra as invasões das hidrelétricas, estradas, hidrovias e o
latifúndio. Nos últimos anos, através dos processos intensivos de formação
política e participação de mobilizações locais, regionais e nacionais,
construíram processos de articulação, solidariedade com as lutas dos povos
indígenas em nível nacional. As assembleias indígenas passaram a ser um desses
espaços de articulação das lutas. Elas iniciaram em 1974, em Diamantino, no
Mato Grosso. Nos dez anos seguintes realizaram-se 50 Assembleias Indígenas
Nacionais, tornando-se a base de um
dinâmico e combativo movimento indígena do qual as atuais Assembleias de Goiás
Tocantins são expressão e continuidade.
Memória
e homenagem
1ª Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e
Tocantins
Na 1ª Assembleia
dos povos indígenas de Goiás-Tocantins, realizada de , 24 a 28 maio
de 2010, um dos grandes desafios debatidos foi a questão dos grandes projetos e
o modelo de desenvolvimento do país.
Conforme depoimento de Alderez Kraho Kanela, “esse desenvolvimento está
matando os povos indígenas da região e do país. Esse progresso é tristeza, é
morte. Nós queremos viver do nosso jeito. O que devemos preservar em nosso país
é a vida, a natureza”.
2ª
Assembléia dos Povos Indígenas Goiás/Tocantins
realizada de 20 a 24 de maio de 2013, em
Palmas. Desta segunda Assembléia participaram aproximadamente 500 indígenas da
região e alguns participantes de outras regiões do país.
Ao lançarmos o olhar sobre a caminhada de luta, resistência e conquistas dos povos indígenas na região Goiás Tocantins, se vislumbra
um um belo e marcante processo coletivo
de construção de alianças e articulações. Dentre os aliados importantes não podemos de
deixar de mencionar nossa homenagem a Dom Tomas Balduino que partiu para a aldeia definitiva em maio
de 2014. Ele, que foi o primeiro presidente eleito em Assembléia geral d Cimi e
posteriormente foi presidente da CPT , foi um incansável lutador pelo
protagonismo e autonomia dos povos indígenas, camponeses e populações
tradicionais, assim manifestou sua convicção a esse respeito: “"Vocês
como protagonistas, são a única possibilidade de solução. Os poderosos tem medo
dos povos indígenas. Vocês não podem perder a oportunidade de se unir cada vez
mais. O que faz tremer é a força de vocês". Declaração de Dom Tomás
Balduino( in memoria) durante 2ª Assembleia dos Povos Indígenas de Goiás e de
Tocantins, que aconteceu em Palmas (TO).
Dom Tomás falou
com muito vigor, a partir de sua longa história de luta, com seus mais de 90
anos: “A situação dos povos indígenas nunca esteve tão ruim. O governo está
contra vocês. Em tempos passados os índios eram caçados. Hoje matam retirando a
terra. Isso fazem na lei, retirando os direitos da Constituição. Acho que a
única força para conter essa política de morte,
é união de vocês. Vocês
como protagonistas, são a única possibilidade de solução. Os poderosos tem medo
dos povos indígenas. Vocês não podem perder a oportunidade de se unir cada vez
mais. O que faz tremer é a força de vocês. Vocês são a solução, a alma do nosso
povo”.
Na 2ª Assembléia realizada de 20 a 24 de maio
de 2013, em Palmas-TO,
Grande parte dos problemas e desafios enfrentados pelos povos indígenas
continuavam.
Conforme Antônio
Apinajé, “vivemos em estado de apreensão, submetidos e ameaçados por uma
campanha muito forte, contra nossos direitos e nossa esperança. Estamos sendo
constantemente bombardeados por medidas que visam tirar nossos direitos.... Este
é um momento de unir forças..Os povos indígenas nos ensinam que eles têm força
para lutar por seus direitos e estamos aqui para partilhar experiências e somar
esforços. E nós vamos conseguir!".
Gercília Kraho
denunciou com veemência o envenenamento dos rios e terras indígenas “Nós somos
o broto da terra. Queremos que o governo nos respeite. Somos impactados. Não
quero que esses grandes projetos vão adiante. Estão querendo matar nosso povo
com veneno”.
Nailton Pataxo
Hã-HãHai não conseguiu segurar as lágrimas ao relatar
que acabara de visitar os povos indígenas do Mato Grosso do Sul. Ao falar do
absurdo sofrimento a que está submetido o povo Kaiowá-Guarani, conclamou
"Nós todos temos que nos unir a eles para resolver esse problema da terra
e violência”.
Conforme Sara Sánchez, coordenadora do Regional GOTO, do Cimi, esse é um
momento muito especial da luta, consciência e visibilidade dos povos indígenas
na região. Ela lembra os grandes desafios que esses povos enfrentam hoje
"a monocultura da soja, arroz, eucalipto e agora até o plantio de
seringueiras, é a arrasadora expansão do agronegócio. As hidrelétricas, que
acabam sendo impostas por um modelo de desenvolvimento comandado pelo grande
capital e acelerado pelo governo, alagando e destruindo em grande profusão. Os
índios estão vindo para dizer não à hidrelétrica de Serra Quebrada (no rio
Tocantins) e Santa Isabel (no Rio Araguaia) dentre outras. Vem para dizer não a
todas essas grandes obras que trazem muita morte, destruição e
sofrimento".
A saúde indígena continua na UTI
O primeiro dia da
assembleia foi marcado pela retirada da mesa da coordenadora da Secretaria
Especial de Saúde Indígena (Sesai) no Tocantins, Ivaneizília Ferreira Noleto,
após diversas manifestações dos índios que se diziam insatisfeitos com a gestão
.
O tema das
políticas públicas, especialmente saúde e educação, são constantes e cruciais nestas últimas décadas, aliás, a saúde tem sido caótica e calamitosa. Só com
permanente pressão indígena é que houve algumas melhorias, principalmente em
questões como prevenção e saneamento. Porém
entre as conquistas no papel e a
realidade nas aldeias, existe uma enorme diferença. É por essa razão que o tema
é trazido com muita força para os debates nas Assembléia Indígenas e outros espaços
de luta.
Os índios estão vindo para dizer não à hidrelétrica
de Serra Quebrada (no rio Tocantins) e Santa Isabel (no Rio Araguaia) dentre
outras. Vem para dizer não a todas essas grandes obras que trazem muita morte,
destruição e sofrimento".
Paulo Suess, assessor Teológico do Cimi, que
fez una importante explanação sobre os projetos do Bem Viver dos povos
indígenas, afirmou:”Aprendi com vocês três coisas – Valorizar o que temos,
garantir as conquistas com audácia e confiar nas nossas forças
3ª
Assembléia Indígena Goiás Tocantins
Nessa 3ª Assembléia a realizar-se de 20 a 23
de junho estão sendo esperados em torno de
500 indígenas da região e mais
alguns indígenas de outras regiões e aliados.
Num primeiro momento haverá una socialização
e partilha das realidades e lutas nas aldeias. Após estas informações haverá exposição e debate
sobre a conjuntura nacional, ressaltando as graves ameaças de retrocessos e
perda de direitos, que está atemorizando os povos indígenas em nosso país. Na verdade essas ameaças pesam também sobre
outros setores da sociedade, em especial sobre os camponeses e populações
tradicionais. Será feito um debate sobre os grandes projetos, em especial o
Plano de Desenvolvimento MATOPIBA.
Serão também feitos dois atos públicos em defesa
dos Direitos Constitucionais dos Povos
Indígenas e da democracia e em defesa da água. Será entregue documento na Assembleia Legislativa e às
autoridades do nosso país.
Às
noites haverá apresentações
culturais dos povos e o lançamento do filme
“Taego Awá”. Está previsto a participação expressiva de representantes
de movimentos sociais, especialmente de quilombolas e camponeses. Também haverá
a presença pontual dos bispos do regional Norte 3 da CNBB e alguma autoridade
civil.
A Assembléia Indígena pretende não apenas
consolidar os apoios e alianças e união entre os povos, mas deseja também dar
visibilidade à luta e direitos desses povos somando forças com demais setores
da sociedade.
Dentre os temas mais contundentes em
torno dos quais pretendem construir
alianças está a questão grave da água e destruição da natureza prevista com a
eventual execução de projetos como o MATOPIBA.
Na opinião da liderança indígena Wagner Kraho
Kanela, esse será mais um passo para a garantia efetiva dos direitos de seus
povos, na consolidação da união para a luta que lhes garanta um avanço na
conquista efetiva de seus direitos e contribuição para salvar a nossa casa
comum, o planeta Terra.
Egon Heck
Cimi Secretariado Nacional
Cimi GOTO
Palmas, 17 de junho de 2016