“Por que não estão cumprindo a lei e nossos direitos, que
conquistamos em 1988?
Lutamos muito, viemos várias vezes a Brasília, juntamos com
nossos parentes de todo o Brasil, nos encontrarmos na escola Santa Maria,
visitamos os gabinetes dos deputados, fizemos nossos rituais de vida e de luta,
entramos várias vezes no Congresso pela porta da frente, falamos com o Ulisses
Guimarães, presidente da Constituinte.
Com todo esse movimento, ganhamos muitos aliados da nossa
causa. Parlamentares reconheceram nossa luta e nosso direito. E, assim,
conquistamos nossos direitos há 27 anos passados.
Estamos cientes que a maioria dos nossos direitos aprovados
não foram colocados em prática. Principalmente em relação à demarcação das
terras de todos os povos indígenas do Brasil, conforme foi determinado pela
Constituição. Por isso estamos de volta para cobrar nossos direitos. A situação
agora é muito grave. Os parlamentares não estão satisfeitos em rasgar a
constituição. Agora querem tirar nossos direitos. Isso não vamos deixar. Se já
lutamos muito, agora nossas lutas têm que ser mais intensas ainda.
Ontem (4) conseguimos falar com o presidente do Senado,
Renan Calheiros. Ele disse pra nossa comissão de Kayapó que a Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 215 ainda não está preocupando muito os senadores,
que estão discutindo outros temas importantes. Ele nos pediu que a gente fosse
falar com os líderes dos partidos, para que quando esse projeto de emenda
constitucional chegasse no Senado, fosse barrado, não fosse aprovado.
Também fomos conversar com o presidente da Câmara, deputado
Eduardo Cunha. Ele nos ouviu e depois falou que da parte dele ele não iria
colocar a PEC 215 em votação”.
Esse foi o teor das conversas com a delegação Kayapó, que com
seus fortes rituais, empunhando suas bordunas, arcos e flechas, com seus corpos
pintados e vistosos cocares, estiveram por horas e horas nas mediações do
Congresso Nacional durante toda o dia de ontem.
A mobilização e luta
continuam
Hoje (5) eles estão de volta a Brasília para conversar com
as lideranças dos partidos e explicar a eles a grande preocupação que têm em
relação à aprovação da PEC, que significa a retirada de seus direitos da
Constituição, especialmente as ameaças às terras de todos os seus parentes
indígenas de todo o Brasil. Com a chegada dos parentes Xikrim, estarão
mostrando aos congressistas e à sociedade brasileira que continuarão lutando
para que não haja a perda de seus direitos.
Os povos indígenas de todo o país estão se mobilizando para
mostrar ao Brasil e ao mundo que seus direitos estão correndo sérios riscos de
serem suprimidos da Constituição. Os povos que lutaram para conquistá-los não
permitirão que sejam violados, não cumpridos ou suprimidos, como é a proposta
da PEC 215, dentre outras.
Os Kayapó estão de volta a Brasília. E essa volta significa
muito. Estão muito preocupados e revoltados com essas propostas de mudanças na
Constituição que eles ajudaram a conquistar. Querem retornar às suas aldeias
com a certeza de que o Congresso Nacional não vai lhes retirar o direito de
viverem em paz e com dignidade em suas terras tradicionais.