ATL 2017

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sábado, 12 de setembro de 2015

Assassinato de Simeão Kaiowá: punição já

“Lembramos que quando não conseguiram ocultar o corpo ensanguentado de Simeão, fazendeiros e políticos espalharam a vergonhosa mentira de que os índios estavam fabricando um cadáver para incriminar os fazendeiros e o agronegócio. Diziam eles que o corpo já estava em estado enrijecido, portanto, morto já antes do conflito. Caluniadores infames vejam o vídeo que e deixem de querer enganar a opinião pública. Assistam o vídeo feito pelos jovens Guarani-Kaiowá e Terena, produzido por Ascuri e Aty Guasu” desabafou uma liderança Kaiowá Guarani repercutindo na imprensa regional




Enquanto escrevia essa missiva, este apelo já alcançava 35.468 visualizações.
Não é possível deixar de mencionar a impunidade que crassa neste país, em que os assassinos dos povos indígenas matam na total certeza da impunidade. Assim foi com a ignominiosa morte de Marçal. Mal chegaram as informações em Campo Grande e as autoridades, desde o governador até o secretário de segurança, passaram a espalhar a versão de que se tratava de um crime passional.

O julgamento do acusado de ser o mandante o crime, o fazendeiro Libero Monteiro de Lima, e do executor, o morador de Antônio João, Romulo Gamarra, deu-se em 1993. Este último chegou a ser preso, mas foi solto por um habeas corpus, evadindo-se para o Paraguai. Desde o início do processo foi solicitado o desaforamento do julgamento para outra região do país, porém, o juri se deu em Ponta Porã. Os réus saíram absolvidos do tribunal. O crime prescreveu em 2003.

Será que se chegará aos executores e mandantes o assassinato de Simeão? O Estado será responsável se uma vez mais trilhar pelos caminhos da impunidade. Para que isso não aconteça, a sociedade brasileira exige rigorosa e ágil investigação e punição dos culpados.  

Lembro-me do assassinato do missionário Vicente Cañas, em maio de 1987. Depois de quase 30 anos, um novo júri está previsto para acontecer nos próximos meses. A determinação veio do TRF da 1ª Região (ver mais).


A lenta justiça humana


Uma das advogadas que atuou na acusação nos primeiros julgamentos do assassinato de Vicente Cañas declarou que “a justiça que tarda, falha”. Porém, ficou para a memória dos nossos mártires. O Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, Goiás, está, juntamente com os jesuítas e o Cimi, celebrando no próximo ano, os 50 anos da vinda do Irmão Vicente ao Brasil, e, em 2017, os 30 anos de seu martírio.

Dom Dimas, arcebispo de Campo Grande, com aval dos bispos do Regional Centro-Oeste da CNBB, escreveu carta à presidente Dilma, na qual questiona as caluniosas afirmações de uma filha de fazendeira, que chamou de braços demoníacos o Cimi e a CNBB:


“No entanto, Senhora Presidenta, é preciso dizer em alto e bom som, que o verdadeiro culpado não se encontra entre os missionários do Cimi ou na Igreja Católica. Quem está na raiz de todas essas décadas de violência e de desrespeito pelos direitos básicos da pessoa humana é o Poder Público, particularmente o Federal, único competente na matéria, e que parece não demonstrar interesse político para encontrar uma solução efetiva. Afinal, foi o Estado, ainda unificado, do Mato Grosso, que titulou terras indígenas a pecuaristas e agricultores de boa vontade, titulação que o mesmo Estado não tinha direito de efetivar.
A pergunta que não quer calar é: “Até quando? Quantas pessoas ainda terão que morrer, para que se chegue à conclusão de que é preciso fazer algo de concreto para que a paz, o respeito pelos direitos e pela justiça sejam assegurados a todos?”
O movimento indígena e seus aliados continuarão a acompanhar o desenrolar do processo, esperando que dessa vez se faça justiça punindo exemplarmente os responsáveis pelo bárbaro crime.
Brasília, 11 de setembro de 2015.
Egon Heck
Cimi Secretariado