ATL 2017

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O agronegócio mata


Dezenas de camionetes chegam furiosamente até o tekohá Tey’juçu, no município de Caarapó-MS.  Entre a forte poeira iniciam um intenso tiroteio sobre os Kaiowá Guarani, que há poucos dias haviam retornado a sua terra tradicional. Pavor e correria. Julia de Almeira, de 17 anos é  atingida pelos tiros.  Continua desaparecida. Os indígenas temem que tenha acontecido o mesmo que passou com os corpos de Nisio Gomes e  Rolindo Vera, cujos corpos continuam desaparecidos.
No Mato Grosso do Sul o agronegócio já definiu suas estratégias na relação com os povos indígenas e seus territórios. A primeira atitude  é a garantia legal através do pedido de interdito proibitório. Em caso  de qualquer  tentativa de  indígena de retorno a seus territórios, em processo de retomada, ação de rechaço imediato, através de pistoleiros, capangas ou milícias particulares. Alegam que essa ação e mais eficaz, pois ações judiciais são muito demoradas.  Agir de forma articulada com os fazendeiros e produtores rurais da região. Imediato pedido de reintegração de posse, caso a situação não seja resolvido pela ação imediata. É a política indigenista ruralista se materializando.

Plantando cruzes

Aos povos indígenas do Estado, onde menos terras indígenas proporcionalmente se demarcou até agora, só restou enfrenar a mais dura situação de guerra permanente, buscando seus direitos com suas próprias pernas e mãos, retornando aos territórios tradicionais, enfrentando inimigos fortemente armados, mesmo  que derramando sangue e plantando cruzes de resistência e esperança.
O que qualquer  cidadão do país e do planeta terra se perguntam são as razões de tanta brutalidade, barbárie e violência, diante de inúmeros  prazos legais descumpridos,  em galopante impunidade e ineficácia do governo, que tem por obrigação constitucional demarcar os territórios indígenas e  proteger os direitos e a vida desses povos.

Como matam

Colocando veneno em nossas mesas, na terra, nas águas e no ar,
Avançando ferozmente sobre as poucas florestas que restam,
Com a lei, apesar da lei ou contra a lei fazem suas potentes máquinas  avançarem,
Com a disponibilização de enormes verbas  federais
Com violência contra as resistências,  das populações tradicionais, indígenas, sem terra,
Através das armas na contratação de pistoleiros, milícias particulares
Certeza da impunidade,
Com apoio de políticos e poder econômico regional,

 Como resistem os povos indígenas

Com a sabedoria e paciência histórica,
Com profunda espiritualidade e rituais (Jeroki Guasu...)
Com a valorização dos lideres religiosos – nhanderu (para os Guarani Kaiowá)
Com fortalecimento da união e apoio mútuo,
Definição de suas estratégias nas grandes Assembleias, Aty Guasu
Denunciando as violências e negação dos direitos em nível regional, nacional e internacional
Construindo alianças com outros povos indígenas e setores da sociedade
Cobrando do Estado brasileiro o cumprimento da Constituição
Retornando a seus territórios tradicionais,
Exigindo políticas públicas coerentes e eficazes

Egon Heck
Cimi – secretariado
Brasilia, Dia Mundial dos Direitos Humanos