ATL 2017

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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

No campo de batalha

 “Cada palmo de terra reconquistado pelos índios no Mato Grosso do  Sul , é uma batalha”. Com essa expressão Antônio Brand, que por mais de três décadas lutou pelos direitos desses povos, em especial dos Kaiowá Guarani, (lembrado com muito carinho e saudade) dá a dimensão do drama e da guerra permanente  em que acontece a luta pelas terras indígenas neste Estado.
Ao visitar os acampamentos que hoje só no cone sul são mais de 30,  o que salta aos olhos é o clima de permanente terror e temor em que vivem as comunidades que se encontram na beira das estradas ou em cantinhos ínfimos de seus tekohá, territórios tradicionais. “passaram a noite atirando por cima do nosso acampamento.  Não dormimos e nos mantemos vigilantes, afirmam as lideranças, ao se referirem as situações de sobressalto  em que vivem.  As narrativas da presença e  ação dos pistoleiros são aterrorizadoras.  E vão narrando  os inúmeros casos de ameaças e violências a que são submetidos nesse processo de luta pelos seus territórios. Castigados pela fome e doenças, ameaçados e discriminados,  violentados em sua dignidade  como pessoas e povo,   lançam ao mundo seu grito e clamor,  seu desespero e esperança.

A luta contínua
Ao visitarmos a comunidade  Pueblito Kuê, município de Iguatemi, que há dois anos chegou a tamanho desespero que havia optado pelo suicídio coletivo como  única atitude diante da morte decretada e a expulsão eminente de sua terra tradicional sagrada.  Diante do clamor e grito mundial, a justiça revogou a reintegração de posse e determinou que  permanecessem em um (pasmem !1)hectare de terra.  Diante da total impossibilidade de duas dezenas de famílias sobreviverem com um mínimo de dignidade em degradante confinamento, ocuparam,  recentemente, mais um pedaço  de sua terra. A ordem de despejo e ameaças dos pistoleiros não tardaram.  A comunidade resistiu  bravamente, na certeza de que um dia seus direitos seriam respeitados e se fizesse justiça. Foi então proposto um acordo judicial em que ficou garantido à comunidade a permanência em 97 hectares. Ali os encontramos fazendo barracos e preparando a terra para lançar as sementes. É momento de respirar mas sem desistir de seu direito à terra. Fazem o apelo para o governo cumpra a Constituição e demarquem logo a terra.

Kurusu Ambá – cruzes, sementes e o último recado
Um dramático apelo vem da massacrada comunidade de Kurusu Ambá. Em carta e vídeo lançam o último recado às autoridades “venham até aqui. Daqui não sairemos jamais. Venham nos enterrar. Chega de prazos para nos despejar.
É a situação de guerra suja, velada ou aberta, tentando matar o corpo e alma desse povo, pisotear  sua resistência e dignidade. Situação infame que envergonha qualquer  ser humano que se preze e tenha sentimentos, qualquer país que respeite minimamente os direitos humanos.
Com eles passamos noites de reza e celebração, dias de angústia e medo, tempos de lançar a semente da esperança para colher frutos de justiça. Que  a alegria das crianças contagie a desesperança e amoleça os corações empedernidos dos responsáveis s por essa situação tão insana de negação da terra aos seus habitantes originários.
Poderia continuar narrando inúmeras situações de violência num rosário de sofrimentos, qual repórter de guerra em campo de batalha!
Prefiro fazer coro com os resistentes povos da esperança na crença de que jamais serão vencidos.

Egon Heck
Cimi – Secretariado

Brasília 2 de dezembro 2014