Fatos
marcantes na memória brasileira. O golpe militar, após meio século, ainda deixa
rastros e entulhos autoritários nas estruturas e no modelo desenvolvimentista.
Sem milagres, mas com a mesma mão de ferro, continua impondo projetos que
agridem e desrespeitam as populações indígenas e tradicionais, especialmente na
Amazônia. Se atualizam as Balbinas, Tucuruis, Itaipus, com Belo Monte, Jirau Santo
Antônio, Tapajós... e dezenas de
hidrelétricas no cronograma oficial.
As maiores vítimas
do “milagre brasileiro” no período do general Garrastazu Médici (1969-1974)
foram os povos indígenas. As grandes rodovias, hidrelétricas, mineração,
rasgaram os territórios de dezenas de povos indígenas, desencadeando um
processo de destruição e violência que deixou um rastro de milhares de mortos,
comunidades inteiras destruídas pelo impacto dos projetos, das bombas, armas de
fogo, epidemias, calados e condenados pela repressão e invisibilidade.
O mais grave
é ter acontecido como se estivesse sendo feito um dever de casa, realizando uma
ação patriótica. Prova disso é que até hoje não se viu esboçar nenhum gesto de
reconhecimento das atrocidades e pedido de perdão aos povos indígenas, por
parte do Estado brasileiro e seus mandantes. O mínimo que deveria estar
acontecendo seria um reconhecimento dos crimes através de um gesto concreto de
reparação, demarcando e protegendo os territórios indígenas.
Papa Francisco e o encontro com
representantes do Cimi
Manhã do dia
4 de abril. Na agenda do Papa um singelo encontro com o presidente do Cimi, Dom
Erwin Kräutler e o assessor teológico do Cimi, Paulo Suess. Na pauta do
encontro, a questão indígena no Brasil. Na conversa é apresentada a situação
candente de povos violentados em seus direitos, suas vidas, e suas almas.
Realidades que o Cimi vem denunciando há mais de quatro décadas, mas que
infelizmente persistem. Durante a audiência, os representantes do Cimi levaram
a Francisco casos de violências a que estão submetidos os povos indígenas e
seus aliados. Destacaram a questão Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul, onde
o confinamento (45 mil indígenas) em área tão pequena traz consigo mortes,
suicídios e sofrimento atroz e permanente... A truculência do governo brasileiro contra os
Tupinambá, no sul da Bahia, que hoje têm em suas terras uma base do Exército,
incêndio de casas, como a de um agricultor aliado dos Kaingang, no Rio Grande
do Sul, e os ataques do agronegócio contra o Cimi e demais organizações. Um
rosário de citações de um calvário e martírio sem fim. Os dados e números mostram que as veias
abertas da América Latina, com os decretos de morte dos povos originários,
continuam abertas. No Brasil não é diferente . O capital voraz, com apoio do
governo e políticos, avança inexoravelmente sobre os territórios, riquezas e
vidas dos povos indígenas. “Sobre os grandes empreendimentos, o bispo lembrou
que hoje 519 obras causam impactos em 437 terras pertencentes a 204 povos
indígenas, conforme relatório produzido pelo Cimi com base também em outros
estudos”.