ATL 2017

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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Que país é esse?



Soldados com escudos e artefatos contra motim fechavam a porta de entrada da Câmara dos deputados. No Senado também já haviam sido barrados. Um forte esquema policial se espalhou pelos espaços dos três poderes. Parecia que estaria prestes a acontecer uma perigosa invasão de vândalos.
Na pauta das duas casas do Congresso estavam temas vitais para os povos indígenas. Uns 150 indígenas estavam em Brasília para participar desses espaços conforme lhes garante a Constituição e a Convenção 169 da Convenção Internacional do Trabalho.
Ao serem barrados, ficaram indignados e revoltados, com essa atitude ditatorial e absurda do Estado Brasileiro. “Isso é um crime...o que vocês soldados estão fazendo ao impedir esses brasileiros nativos entrar no congresso é um crime”, dizia um dos presentes ao ato. Ao tentarem forçar a entrada, foram recebidos com spray de pimenta e rechaçados. A grande mídia qualificou o ato como tentativa de invasão. Porém não registrou que os invasores estavam lá dentro tentando rasgar a Constituição e tirar direitos indígenas.
Que país é esse? Que recebe seus habitantes originários com bombas e baionetas? Exclamou a deputada Erika Kokai. Nessa mesma linha se manifestaram parlamentares e indígenas. Quando os parlamentares, inclusive o presidente da Comissão, deputado Afonso, vieram comunicar aos indígenas sua firme posição de inviabilizar a votação da Comissão Especial da PEC 215, afirmaram “essa PEC está enterrada”. Porém se manifestaram no sentido de que a mobilização indígena foi fundamental para se chegar a essa decisão.

Presos e agredidos

No decorrer do dia  deis indígenas foram presos numa clara atitude de prepotência e intimidação do movimento de resistência e afirmação da dignidade de homens, mulheres, guerreiros e guerreiras indígenas. “Queremos ser respeitados”. Essa foi o grito mais ouvido em dezenas de falas dos povos indígenas.
Ao serem barrados de entrar no Congresso os indígenas apontaram para um cartaz que se encontrava na entrada “Bem Vindos, essa casa também é sua”. Que ironia. Os indígenas exigiam seu mais elementar direito de cidadãos e habitantes primeiros dessa terra “Amanhã viremos em mais. Não vamos aceitar ser barrados em nossos direitos. Nos querem massacrar aqui fora e lá dentro. Isso nós não vamos aceitar” dizia uma das lideranças de mais de duas dezenas de povos ali presentes.
Quando a noite já ia encobrindo o cenário da batalha, os indígenas, sentindo mais uma injustiça e brutal negação de seus direitos, estavam inconformados com a prisão dos seis integrantes de sua delegação. Queriam dizer ao Brasil e ao mundo, de que não desistirão de seus direitos “que prendam a todos nós. Mostrem o que de fato estão fazendo ao rasgar a constituição e roubar nossos direitos”.
Porém nada os demove a continuar a batalho por seus direitos. Hoje novamente estão em Brasília, apesar de toda a violência, ameaças e prisões.

Ultima esperança: nós mesmos

Diante de um quadro tão brutal e criminosamente adverso os indígenas presentes nas manifestações em Brasília, pelos seus direitos, dignidade e vida, se mostraram su crença e convicção de que vencerão, com a força de seus guerreiros, do espírito  secular de resistência, sabedoria e espiritualidade. “O índio brasileiro se revolta. E com razão. Querem jogar a gente na beira das estradas ou debaixo de pontes. Mas nós vamos enfrentar a luta com coragem. Eles tem que respeitar nossos direitos. O que deixa a gente revoltado é a prisão e assassinato de nossas lideranças”. E diante de um mundo  tão fechado a eles, onde muitas vezes não tem a que recorrer, afirmam convictos “a última esperança somos nós mesmos”
Virá um novo dia.

Egon Heck
Cimi Secretariado
Brasilia, 17 de dezembro de 2014
Fotos - Catxeikuei


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O agronegócio mata


Dezenas de camionetes chegam furiosamente até o tekohá Tey’juçu, no município de Caarapó-MS.  Entre a forte poeira iniciam um intenso tiroteio sobre os Kaiowá Guarani, que há poucos dias haviam retornado a sua terra tradicional. Pavor e correria. Julia de Almeira, de 17 anos é  atingida pelos tiros.  Continua desaparecida. Os indígenas temem que tenha acontecido o mesmo que passou com os corpos de Nisio Gomes e  Rolindo Vera, cujos corpos continuam desaparecidos.
No Mato Grosso do Sul o agronegócio já definiu suas estratégias na relação com os povos indígenas e seus territórios. A primeira atitude  é a garantia legal através do pedido de interdito proibitório. Em caso  de qualquer  tentativa de  indígena de retorno a seus territórios, em processo de retomada, ação de rechaço imediato, através de pistoleiros, capangas ou milícias particulares. Alegam que essa ação e mais eficaz, pois ações judiciais são muito demoradas.  Agir de forma articulada com os fazendeiros e produtores rurais da região. Imediato pedido de reintegração de posse, caso a situação não seja resolvido pela ação imediata. É a política indigenista ruralista se materializando.

Plantando cruzes

Aos povos indígenas do Estado, onde menos terras indígenas proporcionalmente se demarcou até agora, só restou enfrenar a mais dura situação de guerra permanente, buscando seus direitos com suas próprias pernas e mãos, retornando aos territórios tradicionais, enfrentando inimigos fortemente armados, mesmo  que derramando sangue e plantando cruzes de resistência e esperança.
O que qualquer  cidadão do país e do planeta terra se perguntam são as razões de tanta brutalidade, barbárie e violência, diante de inúmeros  prazos legais descumpridos,  em galopante impunidade e ineficácia do governo, que tem por obrigação constitucional demarcar os territórios indígenas e  proteger os direitos e a vida desses povos.

Como matam

Colocando veneno em nossas mesas, na terra, nas águas e no ar,
Avançando ferozmente sobre as poucas florestas que restam,
Com a lei, apesar da lei ou contra a lei fazem suas potentes máquinas  avançarem,
Com a disponibilização de enormes verbas  federais
Com violência contra as resistências,  das populações tradicionais, indígenas, sem terra,
Através das armas na contratação de pistoleiros, milícias particulares
Certeza da impunidade,
Com apoio de políticos e poder econômico regional,

 Como resistem os povos indígenas

Com a sabedoria e paciência histórica,
Com profunda espiritualidade e rituais (Jeroki Guasu...)
Com a valorização dos lideres religiosos – nhanderu (para os Guarani Kaiowá)
Com fortalecimento da união e apoio mútuo,
Definição de suas estratégias nas grandes Assembleias, Aty Guasu
Denunciando as violências e negação dos direitos em nível regional, nacional e internacional
Construindo alianças com outros povos indígenas e setores da sociedade
Cobrando do Estado brasileiro o cumprimento da Constituição
Retornando a seus territórios tradicionais,
Exigindo políticas públicas coerentes e eficazes

Egon Heck
Cimi – secretariado
Brasilia, Dia Mundial dos Direitos Humanos







terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Política Indigenista ruralista

Política Indigenista ruralista




Nos idos de 1975, no auge da ditadura militar e do milagre brasileiro, o crítico e escritor Tristão de Athayde, publicou  um artigo “indigenismo e antiindigenismo, em que traz elementos de análise extremamente atuais, “ Como sempre, várias soluções se defrontam, algumas analógicas e outras contraditórias, entre indigenistas e antiindigenistas. A mais radical destas últimas, considera nossos  índios como um anacronismo e sua defesa como um romantismo dispendioso e inútil. Seu desaparecimento deverá ser mesmo favorecido ou por bem (integração) ou por mal (extinção), pelas moléstias,  pela construção de estradas ou pelas agressões dos próprios mateiros e fazendeiros locais. O progresso, para esses antiindigenistas , é um rolo compressor irreversível, exigindo a extinção dos mais fracos.”(Jornal do Brasil, 6/03/1975)
Quantas vezes ouvimos esses discursos trombeteados pelas nossas elites econômicas, politicas e setores militares,  acrescidos de outras pérolas mais,  de teor  racista e fatalista, dentre as quais “os índios atravancam o progresso”, os índios são quistos sociais que devem ser erradicados,  os índios na fronteira são uma ameaça à segurança e soberania nacional,  os índios são um ônus para a nação...
Quantas vezes não foram os povos indígenas ultrajados, ameaçados, violentados e denegridos em sua honra e dignidade, impunemente?
Nessa semana mundial dos Direitos Humanos, na véspera da entrega do Relatório da Comissão Nacional da Verdade á Presidente Dilma,  onde pela primeira vez  é relatado a morte e desaparecimento de aproximadamente 8 mil indígenas dentro período examinado pela Comissão (1946 a 1988), estão em pauta  no Congresso Nacional  projetos de lei e emenda constitucional, como a PEC 215, que se aprovadas, tornarão as ameaças fatos, e a vida dos povos originários/indígenas estarão sob a batuta  da política indigenista ruralista, do agronegócio e do latifúndio.

Estratégias do agronegócio

Neste ano de 2014 o agronegócio avançou em sua política anti-indígenas, inovando com a realização de  leilão, em Campo Grande-MS, para sustentar a caixinha que banca  as milícias particulares por eles contratadas. A isso se acresce a contratação de expressivo número de profissionais que vai desde antropólogos, historiadores, arqueólogos, advogados, até filósofos. São esses que constroem e garantem as fundamentações das políticas indigenistas ruralistas.
No Congresso, onde a bancada afirma ter pelo menos 240 membros,  esperam acionar o rolo compressor para aprovar várias leis e projetos de emenda constitucional que garantam os interesses do agronegócio. Certamente esperam uma mãozinha do  poder executivo para tornar tudo mais fácil.

Não Passarão

Se por um lado a temporada de caça aos direitos indígenas está configurada,  por parte do movimento indígena existe uma esperança de mobilização pela vida e pelos direitos, baseada em suas estratégias de resistência secular, com o apoio dos espíritos guerreiros e seus deuses.
Contam também com a solidariedade de amigos no Brasil e no mundo e com o apoio das populações tradicionais e dos movimentos sociais que lutam por justiça e aprofundamento da democracia.

Egon Heck
Cimi Secretariado
Brasilia, 9 de dezembro de 2014




domingo, 7 de dezembro de 2014

Mineração- buracos de morte


Camuflar atividades destrutivas e mortíferas com discursos de progresso não mais se sustenta. Os mais de 200 conflitos das mineradoras com comunidades na América Latina são um exemplo claro da resistência aos projetos de mineração. A secular exploração que vitimou milhões de pessoas, especialmente nativos, indígenas no continente, de forma perversa, iníqua e impune, está agora diante de crescente resistência e oposição aos projetos de morte implantados pelas empresas multinacionais.
Esta é uma das constatações feitas no 2° Encontro de “Igrejas e Mineração”, que se realizou esta semana em Brasília. Apesar de estar em curso um incremento da atividade de mineração motivada pela elevação dos preços das commodities  em que se transformaram os minérios e com o apoio dos Estados nacionais, os “buracos de morte e destruição” começam a aumentar em quase todos os países do continente. Mais de 60% das grandes mineradoras são Canadenses. Porém surgem neste cenário, com grande voracidade, empresas mineradoras chinesas e japonesas.

“epidemia de resistência”

O seminário Igrejas e Mineração é uma articulação promissora de religiosos(as), leigos e leigas, igrejas, movimentos de pessoas que fizeram uma opção em defesa das comunidades e territórios,  motivados pela fé que os unem numa mística e espiritualidade que brota de sua presença e compromisso com os atingidos pela mineração. Através da denúncia profética e do testemunho buscam construir espaços de resistência e solidariedade, caminhos de esperança e bem viver.
Favorecer os intercâmbios, trocas de experiências, através de visitas, encontros e celebrações são formas de ampliar a resistência,  construir alianças e articular estratégias de enfrentamento com as atividades mortíferas do atual modelo de exploração mineral. Foi denunciado a corrupção e cooptação praticada por empresas de mineração,  no intuito de quebrar a oposição das comunidades,  criminalizando e espalhando o terror e violência nos territórios, especialmente dos povos indígenas, originários.
O Encontro que contou com quase 100 pessoas de 13 países, foi um momento forte de celebração dos mártires e alimentar a esperança de que uma outra américa latina, plural e justa é possível e urgente.

O genocídio Waimii Atroari

Esteve também no encontro o  primeiro secretário do Cimi, Egydio Schwade,  que fez a denúncia da ação genocida da empreiteira e mineradora Paranapanema junto ao povo Waimiri Atroari.  Essa realidade está registrada e fartamente documentada no livro “Ditadura militar e o genocídio do povo Waimiri/Atroari ”,  resultado da convivência e décadas de pesquisa, feita por Egydio, sua família e aliados. Dois dias antes fez o lançamento no Congresso nacional, numa sessão especial da Comissão de Direitos Humanos.
Em seu depoimento falou da estratégia do Estado a serviço dos grandes interesses  nacionais e multinacionais, que inclusive resultaram na expulsão de sua família da área indígena, bem como de outros missionários do Cimi. “Os Waimiri Atroari são o povo que sem dúvida mais sofreu nos últimos 200 anos. Só no período da construção da estrada BR 174 que ligou Manaus a Boa vista, entre 1967 a 1977, mais de 2000 pessoas desse povo foram mortas por armas, bombas e epidemias”.  A estrada não foi feita para beneficiar a população do Amazonas e Roraima, mas para acolher os pleitos da mineradora Paranapanema, desabafou. Tanto é assim que o então presidente da ditadura militar, João  Figueiredo  em 1981,desmembrou grande parte da terra indígena para doar à mineradora.
Infelizmente o  povo Waimiri/Atroari ainda se encontra num grande cerco de isolamento  organizado por empresas e programas.  Romper esse silenciamento, esclarecer o genocídio e punir os responsáveis faz parte dos objetivos dessa publicação, que foi entregue para a Comissão Nacional da Verdade, cujo relatório será entregue à Presidenta Dilma nos próximos dias.

Índios do Tocantins denunciam Katia Abreu

Numa semana de intensa mobilização  nos espaços do poder em Brasília a delegação indígena, denunciou várias vezes as ações e posturas anti-indígenas da senadora Katia Abreu e disseram à presidente e Dilma que não a nomeasse como ministra da Agricultura, pois isso significaria uma afronta aos povos indígenas, populações tradicionais e pequenos agricultores e sem terra. Como sinal dessa indignação afiaram e atiraram  suas flechas contra essas figuras, em frente ao palácio do Planalto. No último dia de suas mobilizações estiveram na Confederação Nacional da Agricultura, protestando contra a política de favorecimento do agronegócio, em suas ações de violência contra a natureza e as populações que resistem a esses projetos.
Na conclusão de suas atividades fizeram uma visita aos participantes da rede de Educação Cidadã, onde se encontra Frei Beto e Aos participantes do encontro internacional Igrejas e mineração’. Agradeceram  pelo apoio que lhe manifestaram aos povos indígenas do Brasil em sua heroica luta contra os projetos d emenda constitucional 215 e o projeto de lei 16 10, ambos ameaçadores dos territórios e vidas dos povos indígenas.


Egon Heck ,        
Cimi Secretariado,    



Brasilia, 6 de dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

No campo de batalha

 “Cada palmo de terra reconquistado pelos índios no Mato Grosso do  Sul , é uma batalha”. Com essa expressão Antônio Brand, que por mais de três décadas lutou pelos direitos desses povos, em especial dos Kaiowá Guarani, (lembrado com muito carinho e saudade) dá a dimensão do drama e da guerra permanente  em que acontece a luta pelas terras indígenas neste Estado.
Ao visitar os acampamentos que hoje só no cone sul são mais de 30,  o que salta aos olhos é o clima de permanente terror e temor em que vivem as comunidades que se encontram na beira das estradas ou em cantinhos ínfimos de seus tekohá, territórios tradicionais. “passaram a noite atirando por cima do nosso acampamento.  Não dormimos e nos mantemos vigilantes, afirmam as lideranças, ao se referirem as situações de sobressalto  em que vivem.  As narrativas da presença e  ação dos pistoleiros são aterrorizadoras.  E vão narrando  os inúmeros casos de ameaças e violências a que são submetidos nesse processo de luta pelos seus territórios. Castigados pela fome e doenças, ameaçados e discriminados,  violentados em sua dignidade  como pessoas e povo,   lançam ao mundo seu grito e clamor,  seu desespero e esperança.

A luta contínua
Ao visitarmos a comunidade  Pueblito Kuê, município de Iguatemi, que há dois anos chegou a tamanho desespero que havia optado pelo suicídio coletivo como  única atitude diante da morte decretada e a expulsão eminente de sua terra tradicional sagrada.  Diante do clamor e grito mundial, a justiça revogou a reintegração de posse e determinou que  permanecessem em um (pasmem !1)hectare de terra.  Diante da total impossibilidade de duas dezenas de famílias sobreviverem com um mínimo de dignidade em degradante confinamento, ocuparam,  recentemente, mais um pedaço  de sua terra. A ordem de despejo e ameaças dos pistoleiros não tardaram.  A comunidade resistiu  bravamente, na certeza de que um dia seus direitos seriam respeitados e se fizesse justiça. Foi então proposto um acordo judicial em que ficou garantido à comunidade a permanência em 97 hectares. Ali os encontramos fazendo barracos e preparando a terra para lançar as sementes. É momento de respirar mas sem desistir de seu direito à terra. Fazem o apelo para o governo cumpra a Constituição e demarquem logo a terra.

Kurusu Ambá – cruzes, sementes e o último recado
Um dramático apelo vem da massacrada comunidade de Kurusu Ambá. Em carta e vídeo lançam o último recado às autoridades “venham até aqui. Daqui não sairemos jamais. Venham nos enterrar. Chega de prazos para nos despejar.
É a situação de guerra suja, velada ou aberta, tentando matar o corpo e alma desse povo, pisotear  sua resistência e dignidade. Situação infame que envergonha qualquer  ser humano que se preze e tenha sentimentos, qualquer país que respeite minimamente os direitos humanos.
Com eles passamos noites de reza e celebração, dias de angústia e medo, tempos de lançar a semente da esperança para colher frutos de justiça. Que  a alegria das crianças contagie a desesperança e amoleça os corações empedernidos dos responsáveis s por essa situação tão insana de negação da terra aos seus habitantes originários.
Poderia continuar narrando inúmeras situações de violência num rosário de sofrimentos, qual repórter de guerra em campo de batalha!
Prefiro fazer coro com os resistentes povos da esperança na crença de que jamais serão vencidos.

Egon Heck
Cimi – Secretariado

Brasília 2 de dezembro 2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Katiamente falando


Oh pessoal é o seguinte. Tem muita gente xingando minha  merecida indicação para o Ministério da Agricultura. Nada mais justo! Afinal de contas a presidente Dilma bem me conhece e reconhece minhas indiscutíveis aptidões.
Afinal de contas deve haver uma grande desinformação de alguns setores ligados a coletivos rebeldes,  à terra, povos indígenas, quilombolas e outras populações tradicionais.
Creio que terei uma grande missão frente ao ministério da Agricultura. Basta lembrar uma feliz expressão de um antecessor meu nesse ministério, o general Cirne Lima, na década de 70 já dizia que a agropecuária seria expandida pela “missão civilizadora do boi”.



Naquele mesmo período, que alguns teimosamente  insistem em chamar de ditadura civil militar,  foi elaborado pelo ministro general Rangel Reis, um sábio projeto que com um canetaço acabaria com 80% dos índios sobreviventes no Brasil.  Um pequeno grupo de pessoas, especialmente do Cimi insuflaram os índios e infelizmente o projeto foi enterrado e não  mais vingou até hoje. Até que o Cabral, não aquele da invasão primeira, mas o da comissão de Sistematização na Constituinte, em 1987, apresentou proposta semelhante, segundo o qual os índios “aculturados”, deixariam de receber a proteção do Estado. Eram considerados aculturados os que falavam  português, vestiam roupas ou tinham relógio e coisas do gênero. Sua proposta também  foi derrotada.
Nas últimas décadas houve um grande esforço de parlamentares e do governo em agilizar a demarcação das terras indígenas, passando essa responsabilidade para o Congresso.  Mais uma vez indígenas e quilombolas, a meu ver equivocadamente, obstruíram a aprovação dessas emendas constitucionais e portarias.
Agora é chegado o momento de avançar. No ministério da agricultura serei mais uma interlocutora do movimento indígena e outros movimentos sociais que quiserem se alinhar com a expansão da agricultura, trazendo mais lucros para o país e commodities para nossa economia. É claro que não vamos conseguir isso com enxadas ou flechas. Algum veneno eficaz vai sobrar na mesa de todo mundo. É o preço do progresso.
Estou lembrando de uma visita que os índios vieram me fazer , o ano  passado, na CNA (Conselho Nacional da Agricultura). Foi uma pena que eu não estava lá, pois creio que os convenceria das nobres intenções do agronegócio em relação às terras produtivas. Continuo acreditando, e o faço com muita fé,  que não é de terra que os índios e quilombolas precisam, mas de uma articulação com os produtores rurais e subsídios federais. Lembram daquele projeto de lei que liberaria 50% das terras indígenas para os dentes das moto serras e os cortantes discos dos tratores. Pena que um  grupinho de radicais continuam combatendo essas iniciativas d agronegócio.  Mas agora que ampliamos a nossa bancada no Congresso e eu agirei no Ministério da Agricultura, tudo será mais fácil. Temos tempos promissores pela frente. Quem sabe os índios e populações tradicionais descubram o caminho de meu ministério.
Egon Heck
Cimi secretariado
Brasília 24 de novembro de 2014



sábado, 15 de novembro de 2014

Povos Indígenas – criminalização e resistência


O Cimi teme pioras na questão indígena. A criminalização das lideranças, divisão das comunidades e aldeias, pressão sobre os recursos naturais, violação dos territórios com a implantação de grandes projetos são alguns dos indicativos de que o cerco está se fechando. Esta foi uma das constatações  do Conselho nacional do Cimi, reunido no Centro de Formação Vicente Canhas, em Luziânia, de 5 a 8 de novembro.
Na análise de conjuntura  ficou evidenciado uma atuação nefasta da Sesai que está promovendo a divisão em muitas comunidades provocando tensionamentos e fracionamento das aldeias, buscando afastar aliados, como o Cimi. A Sesai está exercendo o papel que fazia a Funai no período da ditadura.  A crescente judicialização  dos processos de regularização das terras indígenas  dificulta ainda mais os processos de demarcação configurando um quadro paralisante com relação a esse direito sagrado dos povos indígenas.
Foi visto com muita preocupação o crescente número de índios presos e criminalizados, bem como a atuação da polícia federal, na repressão a índios.

A fome mata

Mais uma vez  a situação dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul, em especial dos Kaiowá Guarani, ficou evidenciada pela gravidade da realidade encontrada na maioria das aldeias e acampamentos. Na visita de membros do Cimi a um acampamento, estranhando o  continuado choro de uma criança, foi perguntado  sobre a razão de tão persistente choro. A resposta  foi imediata e contumaz –“desde ontem ela não come pois não temos alimentos”; A isso foi acrescentado o fato de ter havido morte de crianças por fome. Essa realidade, que não é isolada, exige uma campanha imediata e emergencial para que  não sejamos surpreendidos com mais óbitos por esta razão.
Indígenas deste povo já estiveram dezenas de vezes em Brasília exigindo providencia com relação à demarcação das terras. Em nada se avança neste direito fundamental, sem o qual as situações de fome, morte e violências tendem a se agravar.

Resistência e desafios

No encontro foi destacado a importância da articulação dos povos indígenas e aliados em nível do continente e em instâncias mundiais, levando a realidade dos povos indígenas do Brasil para instâncias como a ONU (Organização das Nações Unidas), OEA(Organização dos Estados americanos)e OIT (Organização Internacional do Trabalho), pois infelizmente se percebe que a efetiva realidade e desafios dos povos indignas do Brasil não chegam a essas instâncias.
A resistência histórica e atual dos povos originários é surpreendente. Nos últimos anos vem fazendo um enfrentamento permanente contra seus inimigos históricos, articulados no latifúndio e no agronegócio. Além disso, tem se mobilizado para evitar retrocessos com relação a seus direitos constitucionais. Para o próximo ano, com o avanço das forças conservadoras e reacionárias, os desafios e embates prometem ser ainda mais duros.
O possível cenário mais adverso exigirá, além de maior  união dos povos, um maior número de aliados e apoiadores desta causa.
O Cimi continuará seu compromisso e apoio incondicional aos povos indígenas e seus direitos,  na certeza de que juntamente com os povos tradicionais e oprimidos desse país poderemos avançar na conquista dos direitos e aprofundamento da democracia, na perspectiva do Bem Viver .
Egon Heck
Cimi Secretariado
Brasília, 7 de novembro de 2014




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Escola na aldeia – do nosso jeito


Termina hoje o 2º Encontro nacional de Educação Escolar Indígena, realizado no Centro de Formação Vicente Canhas, em Luziânia.
Foram quatro dias de reflexões e debates, avaliação e construção de estratégias para a Educação Escolar Indígena no Brasil. Não apenas foram socializadas as experiências, debatidos os desafios e lutas dos professores indígenas nas aldeias, mas também  foi analisada a nova conjuntura e as necessárias lutas para garantir os direitos indígenas, não apenas na lei, mas de fato.
Foi emblemático serem os professores indígenas,  os primeiros a se mobilizarem logo após as eleições.
Professores de 52 povos de todo o país  seguiram em passeata até a praça dos Tês Poderes para reivindicar respeito aos direitos  de uma educação escolar indígena própria de cada povo , dentro do marco de um estado plurinacional e intercultural,  a partir dos territórios indígenas. Protocolaram documentos no Palácio do Planalto e Supremos Tribunal Federal, dialogaram com autoridades ,  manifestaram sua indignação e esperança.
Uma longa caminhada
Nos últimos 50 anos  desencadeou-se um importante processo de descolonização da educação escolar indígena, em todo o continente. Das precárias e simples escolas de palha em aldeias,  ou mesmo ao céu aberto ou debaixo de árvores, foi se forjando um movimento de construção de escolas transformadoras, de formação de guerreiros na luta pelos seus direitos, especialmente seus territórios, recursos naturais, modos de ser e projetos de vida. Começa a nascer a “escola própria de cada povo,  “do nosso jeito”. Os direitos foram garantidos em inúmeras leis, infelizmente não cumpridas, pois os estados nacionais se forjaram na contramão da diversidade, ou seja, quando mais homogêneos mais  fortes.  Dessa forma passaram a se transformar em ´maquinas de triturar a enorme diversidade de quase mil povos originários  na Ameríndia, continente americano.
Depois de meio século de lentas mudanças, as escolas indígenas continuam esbarrando nas burocracias estatais, nos preconceitos raciais, na políticas homogeneizantes, na prepotência dos colonizadores, invasores de seus territórios e negadores dos projetos próprios de vida de cada povo.
Foi gratificante e animador ouvir a experiência do povo Shuar, da Amazônia equatoriana. Santiago Utitiaj relatou como foram se construindo as escolas comunitárias no Equador. Ressaltou as dificuldades que enfrentaram e continuam existindo, a partir da decisão política das comunidades de terem suas escolas e educação próprias”. Esse processo começou em 1940. Porém só na Constituição de 2008 , dentro do marco do Estado Plurinacional, se reconheceu o modelo intercultural bilíngue. “Temos muitos direitos garantidos em nossas constituições e legislação internacional. Precisamos conhecê-los para exigi-los, especialmente os direitos coletivos, como  a “educação própria”, desenvolvida nas comunidades, afirma Santiago.   Lamenta que o sistema educativo dominado pelo estado não permita o desenvolvimento da “educação própria. ” O estado não a reconhece. Alegam o medo dos fantasmas de separatismo, de reivindicação de  independência.
Santiago  conclui dizendo “Apenas queremos que respeitem a nossa existência num Estado Plurinacional e Intercultural”.  E esse  processo  de mudanças profundas de ser feito por nós indígenas ou não será feito por ninguém, pois o Estado e o governo não tem interesse em faze-lo.
No manifesto sobre  Educação Escolar Indígena no Brasil – Por uma educação descolonial e libertadora assim está expresso o grande desafio “Transformar a escola em ferramenta de luta não é tarefa fácil. E para isso não basta mudar apenas sua aparência, seus currículo, seus calendários. É preciso modificar toda sua lógica, sua fundamentação, seus objetivos e essência, bem como os conteúdos e práticas vivenciadas pelos alunos no cotidiano”
No documento final exigem respeito e autonomia dos processos próprios e específicos das comunidades Queremos através deste documento dizer aos governantes, que as nossas escolas indígenas sejam reconhecidas e respeitadas, obedecendo os sistemas de educação próprio de cada povo, cada um com suas especificidades, no seu modo de ser, viver, se organizar, de relacionar com o sagrado, reconhecendo nossas bibliotecas que oferecem nossos livros práticos, as nossas disciplinas tradicionais que se encontram dentro dos nossos territórios. Que as esferas federal, estaduais e municipais reconheçam a autonomia das escolas indígenas. 
Educação escolar indígena descolonial e libertadora. Sonho ou pesadelo. Uma luta de quase cinco décadas de desconstrução da escola do invasor. Da educação de súditos à formação de guerreiros. Um longo caminho, em construção.
Egon Heck

Cimi – Secretariado - Brasilia, 31 de outubro 2014

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A cada eleição, os índios perdem



Votamos em Lula! Nas eleições de 2002 os índios votaram massivamente em Lula, pois tinham a firme convicção de que a proposta de política indigenista construída durante vários anos, pela militância do PT e os povos indígenas, finalmente teria guarida no coração, nas ações e nas políticas do novo governo. As visitas de Lula a várias terras indígenas, suas palavras de compromisso com os direitos desses povos e as promessas de demarcar todas as terras indígenas até o final do primeiro governo, marcariam um novo momento da relação do Estado brasileiro com os povos indígenas. Ledo engano. Para chegar ao poder Lula teve que vender, negociar e adequar a política indigenista aos interesses de sustentação de seu governo. E o que se viu foi um imediato avanço dos interesses antiindígenas, com o assassinato de várias lideranças já no primeiro mês do novo governo.
Lula teve vários encontros com lideranças indígenas, foi na festa da homologação da Raposa Serra do Sol, mas deixou uma grande dívida: a maioria das terras indígenas não tiveram seus processos de regularização concluídos, outros sequer iniciados. Não foi criado um canal de interlocução com autonomia como o Conselho Nacional de Política Indigenista... Decepção. Alguns se sentiram traídos. Lula reconheceu a dívida e a repassou para a sucessora. Com Dilma a decepção aumentou. Apenas um único encontro com uma delegação indígena, no contexto dos protestos de junho

 Carta da véspera

Às vésperas das votações do 2º turno uma carta aos povos indígenas.  Redigida por um assessor, nem sabemos se a “Presidenta” tomou conhecimento do texto. Promessa de empenho para que não se consuma uma retirada de direitos indígenas na Constituição, com referência à PEC 215. Quem sabe, presidenta, poderia seu novo mandato dar uma sinalização de boa vontade revogando a Portaria 303, que é do seu governo, empenho em evitar retrocessos com uma série de medidas, inclusive a alteração do processo de demarcação anunciado pelo ministro da Justiça.

Por que os índios perdem a cada eleição, parte do que a duras  penas conquistaram na Constituição de 1988? Em primeiro lugar porque as elites nunca aceitaram e nem se conformaram com os direitos dos povos indígenas. Isso fica evidente quando olharmos para o período pós-Constituinte até hoje. A duras penas e muitas lutas os índios conseguiram evitar retrocessos, graças à sua permanente mobilização e apoios conquistados no país e no mundo.

Pelos posicionamentos dos Três Poderes com relação aos povos indígenas na atual conjuntura e considerando os possíveis cenários, são previsíveis turbulências e tempestades com graves consequências para os povos indígenas, quilombolas, populações tradicionais, unidades de conservação e meio ambiente.  Muitos “junhos” serão necessários para não haver retrocessos.
O Jornal da Câmara do dia 24/10 nos dá números preocupantes. A bancada ruralista passou de 191 para 263 membros. Portanto 51% do total dos votos. Somado a isto a pequena margem da vitória de Dilma, teremos pela frente um quadro nada animador para os povos indígenas, quilombolas, sem terra, e outros setores empobrecidos.

Em recente artigo, Frei Beto, ao analisar os processos dos governos progressistas no continente, afirma que “Esse processo exportador-extorsivo inclui recursos energéticos, hídricos, minerais e agropecuários, com progressiva devastação da biodiversidade e do equilíbrio ambiental, e a entrega da terra aos monocultivos anabolizados por agrotóxicos e transgênicos. O Estado investe em ampla construção de infraestrutura para favorecer o escoamento de bens naturais mercantilizados, cujo faturamento em divisas estrangeiras raramente retorna ao país. Uma grande parcela dessa fortuna se aloja em paraísos fiscais. Eis a contradição desse modelo neodesenvolvimentista que, no frigir dos ovos, anula as diferenças estruturais entre os governos de esquerda e de direita. Pois adotar tal modelo é aceitar tacitamente a hegemonia capitalista, ainda que sob o pretexto de mudanças "graduais”, "realismo” ou "humanização” do capitalismo. De fato, é mera retórica de quem se rende ao modelo capitalista”.

Tem sido praxe dos governantes das últimas décadas, definir as políticas indigenistas depois de terem sido satisfeitos e acomodados todos os interesses. Só então se procura definir, no espaço que sobrou, os direitos indígenas. Dessa vez parece que não vai ser diferente

Egon Heck
Cimi Secretariado
Brasília, 28 de outubro de 2014



quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Aécio, os índios

Finalmente alguma referência aos índios. Até agora tudo transcorria como se eles não existissem. Que vergonha! Um país com 305 povos indígenas sequer  tiveram uma tímida referência dos candidatos ao palácio do planalto. Quanto cinismo para um país que tomou as terras dos habitantes originários, continua saqueando os recursos naturais das terras indígenas e apregoa um economiscismo desenvolvimentista, fazendo de conta que os índios não mais existem.
Não seria possível ignorar uma das piores situações de povos indígenas hoje, em termos mundiais. Lamentavelmente nada de novo nas propostas. Acenos  aos desejos do agronegócio e de erradicação da violência. Esqueceu de dizer como pensa fazer isso. Quiçá tivesse se comprometido em cumprir a Constituição e a legislação internacional com relação aos direitos dos povos originários e teria então mais chance de avançar na desconstrução  de políticas indigenistas neocoloniais e avançar no diálogo igualitários com esses povos na perspectiva de construir a autonomia  e o bem viver num país plural que só será verdadeiramente democrático  se  respeitar  o direito dos 305 povos que nele vivem.
Na semana passada uma delegação dos Kaiowá Guarani estiveram uma vez mais em Brasília, para exigir medidas urgentes para a dramática situação em que estão vivendo. Foram duros e incisivos em suas colocações: Retomada de suas terras tradicionais e em caso de tentativas de expulsão,  irão cometer suicídio coletivo.
Quanto ao “marco temporal” – que apenas quer reconhecer direito das terras indígenas, onde eles estivessem ocupando a terra  em outubro de 1988, por ocasião da proclamação da Constituição, Ironia por ironia, os índios perguntam , se os latifundiários e o agronegócio se encontravam nesses lugares em 1.500  por ocasião do início da invasão. Em caso negativo, a terra não lhes pertence.
Mineração – o novo nome da invasão
 Durante  as últimas décadas os territórios indígenas tem sofrido constante pressão e invasão por parte dos interesses minerais, garimpeiros e mineradoras. No início da década de oitenta a terra Yanomami  chegou a estar invadida por mais de 40 mil garimpeiros. Essa invasão ocasionou a morte de aproximadamente mil e quinhentos índios. Vários massacres e mortes por epidemias ocorrerem com vários povos.
No início de agosto de 2002 uma delegação indígena esteve com o então presidente da Câmara Aécio Neves, que prometeu não levar ao plenário o projeto de mineração em terras indígenas, de autoria de Romero Jucá. O desafio permanece. O movimento indígena e seus aliados já se pronunciaram inúmeras vezes contra o projeto. Essa nova ameaça de invasões massivas e destruidoras dos povos e do meio ambiente pesa sobre as vidas e o futuro dos povos originários desse país.
Será importante que os candidatos à presidência da República se posicionem claramente diante de mais esse genocídio anunciado.

Egon Heck
Cimi – secretariado
Brasília, 22 de outubro de 2014



sábado, 18 de outubro de 2014

Aldeias e acampamentos indígenas no Mato Grosso do Sul - violência, insegurança e medo

Aldeias e acampamentos indígenas no Mato Grosso do Sul - violência, insegurança e medo
Brasília, Brasil e o mundo mais uma vez ouviram o clamor da situação de genocídio e o anuncio de suicídio coletivo do povo de maior população e pior situação do país, os Kaiowá Guarani.  Não é possível  ficar insensível ou se omitir diante de um quadro dantesco de violência. Ou nos solidarizamos com essa luta de vida, justiça e paz ou seremos identificados pela história como cúmplices das piores crueldades contra um povo indígena no mundo. Chorei, confidenciou um dos advogados do Cimi ao acompanhar uma delegação  desse povo aos gabinetes dos Ministros da Suprema Corte.
Parece que vão se esgotando todas as possibilidades de sobrevivência de um povo. É como se muros de concreto fossem sendo construídos para impedir que o sol da esperança continuasse a brilhar. Cercaram a terra. Estão tentando fazer de cada pequena área ou confinamento, uma prisão. Roubam nossa liberdade, tentam prender nossos sonhos, negam nossos tekohá (terra tradicional.) nos expulsam quando voltamos a nossas terras. Então queremos dizer a vocês e a todas as pessoas em todo mundo que não mais vamos deixar nossos  territórios. Se querem nos retirar, pedimos ao governo brasileiro que mande soltados, que venham os pistoleiros, enviem também a funerária, tratores para cavar grandes valas, pois é aí que vamos fica. Essa declaração de um das lideranças, ao lado do Supremo Tribunal Federal, bradou fundo nos corações dos presentes.  Com esses termos também se pronunciaram lideranças religiosas e membros ameaçados do novas expulsões.
Gestos fortes como envolver os rostos com terra e comer terra, como grito de filhos da terra, deixaram perplexos os reportes que estiveram na coletiva de imprensa no lado seco da grama do Supremo. “Essa é a nossa arma” mostrou um dos rezadores o mbaracá com o qual  buscam abrandar a ira dos nhanderu, para que a Terra não seja destruída.
Não acreditamos mais em vocês, pois já nos enganaram e mentiram demais. Nós vamos retomar as nossas terras. Essa decisão foi repetida inúmeras vezes, dentro do Ministério da Justiça, na presença do novo presidente da Funai, Flávio. Conseguiram informações sobre o andamento de alguns processos de identificação, sendo que dos cinco Grupos de Trabalho, apenas um concluiu o relatório, com um atraso de mais de três anos conforme  compromisso assumido no Termo de Ajustamento de conduta.
Noite de vigília, muita reza e ritual
Apesar de tudo, a resistência, a vida e a espiritualidade desse povo fala mais alto. Ao lado do Palácio da Justiça as lonas pretas do acampamento. Ali passaram a noite em ritual, para que os corações dos ministros fossem amolecidos e os seus direitos e terras garantidas. As estrelas acompanharam toda a jornada como fiéis testemunhas do pacto de vida que estava sendo celebrado.
Lindo e dramático acordar entre os Três Poderes. Abrir os olhos e ver a justiça de olhos vendados. O que se pode fazer?
Era preciso recuperar esperança, encontrar com pessoas  sensíveis e atuantes na garantia dos diretos indígenas. Na 6ª Câmara uma agenda propositiva. Hora de cobrar dos representantes do Ministério da Justiça ações efetivas no combate à violência. De nada adianta  a presença da Guarda Nacional, da Polícia Federal e outros, se não existem condições objetivas e políticas claras de segurança nas áreas indígenas e proteção das comunidades e áreas ameaçadas e submetidas às violências. A Funai de Dourados parece estar virando um quartel” desabafou uma das lideranças. Daí a conclusão de que Segurança só com Demarcação das terras
Rituais de despedida. Certeza de que estão lutando pela vida e futuro de seu povo.
Egon Heck

Cimi – secretariado -Brasilia, 17 de outubro de 2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Se eleito for




Enquanto  as urnas vão acariciando silenciosamente voto por voto, ponho-me a dialogar com meus botões, já envelhecidos e cansados da mesmice política a cada eleição.  A primeira constatação é obvia: tudo farinha do mesmo saco. Ou melhor, os que tem alguma chance de chegar ou permanecer no palácio do Planalto, rigorosamente propõem ou seguem a cartilha neoliberal, colonialista, ditatorial, eletista. Diante de tal cenário, a reação primeira seria de rejeição em bloco e não votar na falta de democracia.
Mas tem quase um milhão de brasileiros originários cuja situação é infinitamente pior. Além de sentir-se no direito do exercício da indignação terão que amargar mais quatro anos de vilipêndio sobre seus direitos constitucionais. O agronegócio cresce e se expande mais que erva daninha. São os povos indígenas  que primeiro e mais intensamente terão que arcar com as consequências nefastas, destruidoras, criminosas. Ele nada poupa.  Rasga o ventre da mãe terra e o enche de venenos, impunemente. Os  filhos originários da terra são agraciados com uma silenciosa guerra. Tudo acontece com a benção do sistema que covardemente insiste de chamar isso de progresso.
E se eleito for algum indígena, seja para Assembleia Legislativa estadual seja para o Congresso Nacional, cenário pouco provável,  mesmo assim terá sido o passo mais fácil, diante do hercúleo esforço que terão que fazer, em meio a um ambiente de cobras criadas, de cartas marcadas, de interesses consolidados.
Tenhamos a coragem e honestidade de pensar ,por uns instantes, no gigantesco desafio que terá   pela frente esse eventual eleito. Por mais que o movimento indígena tenha avançado e amadurecido, dificilmente não sucumbirá diante das presas sanguinolentas do monstro.
Apesar dos apesares “se eleito for” ninguém poderá fugir do pareo.  Que os céus conclamem todos os heróis e combatentes para cerrar fileira na defesa da vida e direitos dos povos indígenas.
O que será das nossas crianças?  Qual será o nosso futuro, a partir de amanhã?


Egon Heck
Dia de mais uma eleição

Cimi, secretariado

Os índios e as eleições: pior que péssimo




Tento ser otimista. Mas a  cada eleição que  chega parece que a cena do fundo do poço se repete. Aí  vem o premio consolação: pior não pode ficar. E entram de cabeça. Com consciência e secular paciência. Candidatam-se. Esse ano são mais de 80 indígenas concorrendo a alguma vaga do poder legislativo estadual ou federal. Escolhem alguém que algum benefício, de alguma maneira possa lhes proporcionar. E não faltam os tapinhas nas costas, que logo mais adiante se transformam em punhaladas.
Tento puxar a conversa para o que de melhor minha memória conseguiu reter nessas últimas décadas. Subitamente me vem a imagem de Juruna, que apesar dos apesares conseguiu ser referência da luta indígena durante algum tempo. Criou até a Comissão do índio na Câmara dos deputados. Teve a decência e a coragem de chamar o general presidente da Republica e seus ministros de ladrões. Tentaram caça-lo. Mas contra a realidade não há argumento que resista. Porém depois de um ano e meio chegou o fatídico dia 30 de agosto de 1984. Juruna cai na cilada. Vai no jatinho de um fazendeiro invasor do território Pataxó Hã-Hã -hai para o encontro  com os índios. Depois de uma discussão acirrada, vai à sede do sindicato Rural, antro dos invasores da terra indígena e diz que esses não são índios. São apenas aproveitadores. A partir desse momento Juruna desmoronou para os povos indígenas. Não resistiu às diabólicas tentações da vil moeda.
Em Roraima, o Conselho Indígena de Roraima – CIR  travou uma ferrenha campanha contra o título de eleitor.  O estrago a cada votação justificava a catilinária contra tão contraditório documento, sagrado para a assim dita democracia. Porém esse ano avançaram na perspectiva de lançar dois candidatos pelo movimento indígena. Assim tornaram-se reais as chances de eleição de um deputado
O voto étnico assim como o partido indígena nunca passaram de mera ficção. O mesmo destino teve a proposta do Parlamento Indígena.
Mas houve resistências e lutas que infelizmente não se transformaram em conquistas. Por ocasião  da Constituinte exclusiva, foi  encaminhado ao Congresso a solicitação de 5 vagas para os povos indígenas. Mais uma vez o pleito indígena foi negado.
Os candidatos e a ignorância
Mais uma vez estamos diante de um quadro patético. Para os aspirantes ao Palácio do Planalto e as benesses do poder, o que interessa é chegar lá. Os povos indígenas não cabem nessa conta. Alguns  talvez  ainda estejam com a ideia do índio do primário, ou do índio de peninha, norte americano.  Aécio, mineiramente se esquiva do tema incômodo. Dilma já mostrou  que não quer saber.  Marina também está sob a pressão dos ruralistas. Porém sua origem dos seringais do Acre, sua convivência e luta conjunta dos povos da floresta, lhe possibilitou um conhecimento e compromisso, sensibilidade e respeito, que na atual conjuntura torna difícil converter em garantia de direitos dos povos originários.
Seja por ignorância ou má fé, os direitos e a vida dos povos indígenas  estão novamente no banco dos réus ou à disposição como moeda de troca. Sem ilusão terão pela frente as maquininhas da democracia. Resta-lhes mostrar que são cidadãos primeiros deste país, e não mais admitem omissão ou ignorância com relação às suas lutas e seus direitos.
Que bom  seria
Se todos os candidatos
Se dessem conta, nesta eleição,
De que existe uma Constituição
A ser cumprida e uma dívida
Histórica para com
Os habitantes originários desse país,
 A ser saldada com urgência
Eles  clamam por justiça,
Por demarcação e respeito
A suas terras/territórios,
Punição aos assassinos  seculares
E atuais de suas lideranças e povos.
E mais do que isso,
Que assumissem um compromisso concreto,
De viabilizar esse país plural,
Com respeito, dignidade e autonomia
 para os povos indígenas

Egon Heck
Cimi-secretariado
Brasilia, 3 de outubro de 2014



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Dom Tomás no ritual dos índios Krahô

    
“ Ele está aqui. Eu vi.  Uma pessoa quando morre fica entre nós ele não foi embora. Ele está aqui.  Ele está olhando por nós. São poucos os que ajudam os povos indígenas. Tem que continuar o trabalho, a luta de D. Tomás.”
Gercilia Krahô, importante liderança do povo, recebeu, na nova aldeia,  com muito carinho,  parentes e amigos de D. Tomás,  que ela tinha como tio. Para o povo Krahô o tio tem uma relevância tão importante no papel da formação social quanto o pai.
A homenagem  ritual  Amjĩkĩn Pàrcahàc acontece como finalização de luto de um parente e neste caso  seu inesquecível amigo Tomás. Este ritual compreende momentos marcantes de noites acordados embalados pelos cantos no pátio,  pinturas corporais, os cortes de cabelos e a corrida com a tora de buriti que simboliza o corpo de D. Tomas.  Esse corpo  pintado e empenado percorre o pátio nos ombros dos indígenas e em seguida  levado a casa de Gercília, onde é  envolto  em um pano e logo depois despido para que as mulheres possam se despedir através do choro ritual, um lamento profundo de lagrimas e soluços que toca e faz chorar muitos presentes.  
que de   passando o “Eu só participo do ritual na igreja de Goiás, se depois puder fazer o ritual dele, em minha aldeia, conforme a nossa  cultura” exigiu Gercilha
O cerrado já se vestia de verde e o rio se tingia de Vermelho para participar desse momento ímpar da memória de um de seus filhos e defensores intransigente e radicalmente comprometido com a diversidade de vida, povos e comunidades originárias deste Brasil central.
Cenário perfeito para um grande e inesquecível acontecimento. Beleza e simplicidade, alegria e lágrimas, gestos profundos de espiritualidade ritual. A celebração da memória de um “kupen”(não indígena) na aldeia é mais do que uma excepcionalidade, é um gesto de reconhecimento da  permanência dentre eles.
Presentes e compromisso
Um dos momentos marcantes do ritual...... foi quando Dom Eugênio, bispo de Goiás entregou à comunidade, através de Gercília umas lembranças de D. Tomás – uma cruz  simbolizando os mártires latino-americanos e uma vistosa estola, que ela imediatamente vestiu. Era mais do que memória. Foi o selado o compromisso da continuidade do trabalho em defesa da vida e dos direitos dos povos indígenas, em especial com os “mehin” (Krahô).
De longe se ouvia a cantoria ritual no centro do pátio da aldeia. Era  o último dia da celebração. Jercilia se aproximou de D. Eugênio, e num gestou perdido na noite, carregada de harmonia , revezando silêncios e maravilhoso cantos, tirou o colar que trazia no pescoço e colocou-o no bispo dizendo “Agora você é compadre de D. Tomás”. Umas rápidas palavras e estava selado o compromisso.
D. Eugênio declarou que sempre teve muita admiração por D. Tomás, pelos seus trabalhos, pela sua luta.  Por essa razão estava junto aos Kraho,  com o pessoal do Cimi, CPT e outros amigos de D. Tomás. “Simpatizo com a causa indígena e da terra . É preciso defender essa gente e os empobrecidos da terra”. Disse ter achado ótimo essa oportunidade de conhecer um pouco mais da cultura indígena.
O massacre continua
No decorrer dos três dias celebrativos inúmeros depoimentos foram sendo desfilados, todos eles marcados por profunda indignação e revolta, pelas violências, omissões, preconceitos e massacres. Izabel Xerente verberou “ Vão entrar em nossas terras(grandes projetos) para massacrar. Nois vivemos lutando por todos. Tenho essas borduna pra dará na cabeça.
Vários depoimentos lembraram o avanço do agronegócio, destruindo as matas, poluindo os rios. As monoculturas da soja, do eucalipto, do gado, acaba envenenando  e matando a terra e os animais. Os rios estão secando.
Foi lembrada a brava resistência das comunidades indígenas diante das políticas desenvolvimentistas do atual governo com as rodovias, hidrovias, hidrelétricas, dentre outros. Porém nós indígenas somos a semente e as plantinhas dessa terra. Vamos continuar lutando. Vamos nos unir com os pobres. Vamos lutar unidos.
O povo Krahô, que faz parte da grande nação Timbira, são hoje em torno de 3.200 pessoas  vivendo em 28 aldeias nos municípios de Goiatins e  Itacajá no Tocantins
Gratidão e alegria. O ritual que marcou o fim do luto de D. Tomás entre os Krahô, também nos traz a certeza de sua presença  e a  continuidade de sua  luta entre nós e      da vitória dos povos originários do país e do continente latino-americano.

Brasília, 1 de outubro de 2014
Cimi GOTO
Egon Heck








sábado, 20 de setembro de 2014

Indígenas Aikewara na Comissão da Anistia – perdão e reparação


Uma tarde de calor em Brasília. No Ministério da Justiça mais uma sessão ordinária da Comissão da Anistia.
Apreensão e muita expectativa. Um momento histórico, nesse dia 19 de setembro. Pela primeira vez vão ser julgados  processos de anistia solicitado por um povo indígena.
Depois de quatro horas, o presidente Paulo Abraão declara oficialmente “ A partir de hoje a história do Brasil tem que ser contada diferente”. O Estado brasileiro reconhece sua ação de exceção-repressão a povos indígenas e pede oficialmente perdão por essas ações e concede reparação\9 130 salarios mínimos a cada um).
Dos 16 peidos analisados, 14 foram reconhecidos pela Comissão.
Foram reconhecidos os crimes de exceção praticados pelos militares contra uma aldeia de indígenas de pouco contato e que praticamente não falavam português. Composta de apenas 40 adultos, a aldeia foi aterrorizada com a instalação de uma base militar ao lado da aldeia. Os homens foram praticamente todos obrigados a participar diretamente em serviços forçados, especialmente carregar munição, alimentos e pessoas assassinadas. Uma situação de horror que traumatizou a população da aldeia. Isso por três anos ( 1972 a 1975 – período do combate e extermínio da Guerrilha do Araguaia.
Em seus depoimentos os índios presentes relataram as crueldades, atrocidades e humilhações  a que foram submetidos. Os militares nos ameaçavam e intimidavam dizendo que se não participássemos das ações perderíamos a terra. Além disso nós colocavam na frente das operações para que morrêssemos primeiro.
Relatar várias situações de guerra envolvendo ao aldeia foi muito difícil. Estavam visivelmente nervosos, chegando às lágrimas. Dois dos que haviam peticionado já morreram e outros não mais conseguem sair da aldeia.
Já era noite. Uma luz brilhou no fim do túnel. Uma vitória da resistência e luta dos povos originários, mas de maneira especial pela coragem do povo Aikewara. Aguentaram silenciosamente esse enorme sofrimento e trauma, com medo de repressão dos militares.
Os índios anistiados habitam a Aldeia Sororró, na Terra Indígena Aikewara, localizada entre os municípios de Marabá (PA), São Geraldo do Araguaia (PA), São Domingos do Araguaia (PA) e Brejo Grande do Araguaia (PA)..
Pedido de perdão e reparação
Ao reconhecer a violação dos direitos dos índios, o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, pediu perdão pela ação do Estado brasileiro. “O conjunto de uma comunidade indígena também foi vítima da ditadura militar e que essa repressão, que aconteceu ao povo que vivia em torno da região da Guerrilha do Araguaia, atingiu não apenas os camponeses, os guerrilheiros, mas também as comunidades indígenas que lá estavam”, disse Abrão. “O que era apenas uma presunção, agora é certeza e a história tem que ser recontada para dizer que indígenas também foram atingidos pela repressão”, disse.(Agencia Brasil)
Um caso emblemático
Conforme a coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, trata-se de “um caso emblemático, pois, através dele abre-se uma nova perspectiva para que o Estado Brasileiro peça perdão aos povos indígenas de todo o país por todas as barbaridades que ocorreram...Sempre se fala em dívida histórica com os povos indígenas, como algo de um passado distante. Poucos percebem que o genocídio dos povos indígenas segue se repetindo e que a construção de uma nação democrática depende de uma justiça de transição ampla para  com os povos originários dessa terra, alvos da opressão primeira, que deu origem a essa nação”
Reparação, individual e coletiva
O Estado brasileiro pede perdão a indígenas Aikewara (Surui do Pará) e concede reparação com relação às atrocidades cometidas contra esse povo pelos militares, no contexto da repressão à guerrilha do Araguaia (130 salários mínimos a cada um dos 14 processos julgados e deferidos)
A questão da reparação coletiva foi lembrado pelos índios, pela relatora Sueli Belatto e pelas testemunhas Sonia Guajajara, Marcelo Zelik e Iara Ferraz .Essa reparação seria o imediato reconhecimento e regularização de parte de seu território que está sendo ocupado por fazendeiros.
A presidenta da Funai,  Maria Augusta Boulitreau Assirati, prometeu que, até o início de outubro, vai entregar ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o processo acrescentando 11 mil hectares no território dos Suirui - Aikewara.


Egon Heck e Laila Menezes
Secretariado do Cimi
Brasilia 20 de setembro de 2014