Jamais algum movimento social conseguira ocupar o inviolável
espaço do plenário da Câmara. Os povos indígenas revoltados e indignados com o
processo de violação de seus direitos, com ações e iniciativas orquestradas nos
três poderes, decidiram dar o recado aos parlamentares. E isso no "espaço
considerado inviolável, na casa do povo". Após quase meia hora de pressão,
conseguem irromper na sala do plenário.Surpresos e perplexos, os parlamentares
foram se retirando de seus assentos, e outro grupo foi refugiar-se em torno da presidência
da mesa.Um clima de temor e apreensão se espalhou pelo ambiente dos 513
deputados, dos quais um pouco mais de trezentos estavam no recinto.
Nesse fato inédito, em que das 18,10 hs às 1840 horas o plenário da Câmara foi despido de seu
padrão engravatado, para dar lugar aos corpos e rostos pintados que ao som do
maracá disseram a que vieram - revoguem já! (as leis e projetos aintiindígenas)
Foi bonito ver
indígenas velinhos, mulheres, jovens e crianças tomarem conta das confortáveis
cadeiras, com sorrisos e comentários "como é confortável a casa do
povo! nunca a gente tinha imaginado o
que está vendo e assistindo." Esse fato inédito correu o Brasil e o mundo.
Para dizer: estamos aqui, exigimos respeito, queremos respostas, não tirem os
nossos invioláveis direitos! Se perplexos ficaram os senhores deputados, muito
mais perplexos e indignados estão os povos indígenas pelas inúmeras propostas
que estão nesta casa, com o único intuito de retirar os direitos indígenas,
para favorecer o agronegócio e outros interesses, minerais,madeireiras,
militares com acelerada privatização das terras e águas em nosso país.
O Brasil Plural
mostra sua cara
Ao ver o plenário da Comissão de Constituição e justiça
cheia de cores, de corpos lindamente pintados, dando uma bela imagem desse Brasil plural, profundo,
originário. É pena que isso só seja reconhecido somente nos momentos das cruciais lutas que os mais de trezentos
povos indígenas levam adiante, quando os
processos genocidas avançam sobre seus territórios, suas vidas.
As dezenas de parlamentares que vieram prestar apoio e
solidariedade aos povos indígenas no congresso destacaram esse momento bonito e
crucial.
Nas inúmeras manifestações das lideranças indígenas,
caciques, pajés, a tônica foi a mesma.
Querem nos matar com esses projetos de lei, portarias. Mas nós vamos resistir,
lutar, até o último índio! E todos pediram que enterrem as malditas e
criminosas iniciativas do legislativo e executivo.
O momento é
esse, avançaremos !
Nailton Pataxó ressaltou que esse momento é semelhante ao da
Constituinte, quando os inimigos dos povos indígenas tramaram vários vezes para impedir com que os
direitos indígenas fossem inscritos na nova Constituição. Só vencemos por que
nos mobilizamos, viemos ao Congresso quase todos os dias, visitamos gabinete
por gabinete dos parlamentares, fiemos debates e rituais aqui no Congresso,
enchemos os tapetes verdes e azuis com a cara do Brasil plural, combativo e
resistente. Agora estamos novamente num momento em que os nossos inimigos
querem rasgar a Constituição tirando dela os direitos por nós conquistados.
E com muita firmeza e sabedoria diz "Vamos vencer mais essa
batalha! Unidos e mobilizados sairemos vitoriosos de mais essas tentativas
criminosas de tirar nossos direitos."
Além da visibilidade conseguida para suas lutas e seus
direitos, conseguiram do presidente da Câmara Henrique Alves, juntamente com
outros parlamentares, lideres de partidos, a promessa de não indicação de
membros para a Comissão especial, que
daria o parecer sobre a PEC 215 e a instalação de uma mesa de negociação com a
participação paritária dos povos indígenas , para debater todas os projetos de lei e iniciativas que dizem respeito aos
povos indígenas.
Em documentoentregue ao presidente da Câmara o movimento indígena reafirma “Não
admitiremos retrocesso na garantia dos nossos direitos...Reafirmamos por tudo
isso , a nossa determinação de fortalecer nossas lutas, continuarmos vigilantes
e dispostos a partir para o enfrentamento político, arriscando inclusive as
nossas vidas, em defesa dos nossos territórios e da mãe natureza e pelo bem das
nossas atuais e futuras gerações”.
A promessa é de que hoje seja criada essa mesa de diálogo.
Povo Guarani Grande Povo
Brasilia, 17 de abril 2013