ATL 2017

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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Genocídio Indígena será denunciado ao Papa



"Vamos solicitar uma audiência com o Papa Francisco para denunciar as violências e genocídio a que estão sendo submetidos povos e comunidades indígenas no Brasil", afirmou o deputado Padre Ton, coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas.  Essa intenção foi reafirmada por outros parlamentares presentes ao ato de abertura da exposição" Olhares  Cruzados Guarani Kaiowá (Brasil) Pai Tavyterã (Paraguai), que está se realizando no espaço do servidor, na Câmara dos Deputados.
Para  a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, é um absurdo o assassinato do adolescente Kaiowá, Denilson,  quando ia pegar uns peixes. A decisão da juíza foi não apenas pela reintegração de posse da comunidade Pindo Roky,  mas a remoção do corpo de Denilson, enterrado no local do assassinato.
No ato de abertura também estiveram presentes vários parlamentares, o representante da ONU no Brasil, representantes indígenas de Kurusu Ambá, Panambizinho e Te'Ykue (Caarapó).
Otoniel Ricardo, do Conselho da Aty Guasu que está no programa de proteção da Secretaria de Direitos humanos, em função das ameaças de morte, falou pelo Conselho da Aty Guasu, chamando atenção para a gravíssima situação em que se encontram as comunidades Kaiowá Guarani por causa da não demarcação das terras, os assassinatos de lideranças, a impunidade e criminalização "No Mato Grosso do Sul vivemos uma situação de extermínio do nosso povo, porque não querem reconhecer nossas terras tekohá, a terra sem males.
Também participaram representantes de entidades solidárias à luta desse povo, como o Conselho Indigenista Missionário, Cimi.
Dirce Carrion, coordenadora do Projeto Olhares Cruzados que está em sua 10ª edição, destacou sua felicidade em poder estar dando visibilidade a um povo  tão sofrido e com tanta dignidade, sabedoria e profunda religiosidade e cultura.
Ao nos dirigirmos ao Congresso fomos alertados para as possíveis dificuldades dos índios entrarem naquela "casa do povo", pois a segurança reforçada pela polícia federal, com ordem de não deixar os índios entrarem, em função dos acontecimentos do dia anterior, quando os povos indígenas de todo o país adentraram à plenária, ocasionando uma debandada e correria dos parlamentares.

Abriram-se portas

Portas foram abertas pelos povos indígenas do Brasil, sem muitas palavras, mas com a força das rezas e rituais, dos cantos e danças plurais,  a energia dos encantados,  a sabedoria milenar e a determinação política de não admitir um centímetro de retrocesso em seus direitos conquistados.
As invioláveis portas do Congresso não resistiram à emergência súbita dos povos raiz desse país. Eram 18,10, de terça feira, dia 16 da abril. Dia memorável, histórico, em que aquele sisudo plenário recebeu um banho de chão, de alegria, de energia secular, de cores vibrantes, corpos pintados, maracás afinados. "Estamos com medo", gritou ao microfone um dos parlamentares. Bastou a ritual entrada  nativa que as gravatas bem comportadas se colocaram em debandada. Porder-se-ia perguntar "mas de que fugiram, senhores parlamentares?  Será que pensamento de invasores seculares ainda povoam vossas mentes?. Ou será que algum mais afobado, foi se benzendo pensando em terríveis canibais?  Deveriam ter corrido ao encontro deles, abraçando-os carinhosamente, pelo eloquente gesto de começar a  libertar  aquele espaço da prisão do poder econômico e político reinante.
Também foram  abertas portas de diálogo, na Câmara dos deputados, com paridade de participantes entre parlamentares e indígenas. O grupo de Trabalho foi instalado.
As portas do Supremo Tribunal Federal se abriram para um frutuoso e sincero diálogo como o presidente daquela casa,  Joaquim Barbosa
Abriram-se corações e mentes, semearam-se novas sementes, conquistaram-se multidões de aliados no Brasil e no mundo.
A única porta que continua trancada para os povos indígenas é a da presidente Dilma. Até hoje ela não se dignou receber  as lideranças do movimento indígena,  num flagrante descaso ou desprezo do que de mais digno e belo  esse país tem, que é a pluralidade de seus povos. Assim se expressaram as lideranças indígenas que na véspera do dia dos Povos Indígenas, passaram três horas diante da porta esperando um gesto de diálogo.

 Recado dado

Os indígenas retornaram às suas aldeias, malocas, comunidades, com o coração cheio de alegria , esperança e a certeza de que  seus inimigos não passarão.  "Lutaremos até o último índio",  foi repetido por diversas lideranças, que estão confiantes de que unidos e  mobilizados não permitirão nenhum retrocesso ou retirada dos direitos conquistados. Voltaram felizes  para seus territórios, com importantes avanços e redobrada vigilância e luta.

Povo Guarani Grande Povo,
Cimi, Brasília, 20 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Flechas, maracás e o inviolável



Jamais algum movimento social conseguira ocupar o inviolável espaço do plenário da Câmara. Os povos indígenas revoltados e indignados com o processo de violação de seus direitos, com ações e iniciativas orquestradas nos três poderes, decidiram dar o recado aos parlamentares. E isso no "espaço considerado inviolável, na casa do povo". Após quase meia hora de pressão, conseguem irromper na sala do plenário.Surpresos e perplexos, os parlamentares foram se retirando de seus assentos, e outro grupo foi refugiar-se em torno da presidência da mesa.Um clima de temor e apreensão se espalhou pelo ambiente dos 513 deputados, dos quais um pouco mais de trezentos estavam no recinto.
Nesse fato inédito, em que das 18,10 hs às 1840 horas  o plenário da Câmara foi despido de seu padrão engravatado, para dar lugar aos corpos e rostos pintados que ao som do maracá disseram a que vieram - revoguem já! (as leis e projetos aintiindígenas)
Foi bonito ver  indígenas velinhos, mulheres, jovens  e crianças tomarem conta das confortáveis cadeiras, com sorrisos e comentários "como é confortável a casa do povo!  nunca a gente tinha imaginado o que está vendo e assistindo." Esse fato inédito correu o Brasil e o mundo. Para dizer: estamos aqui, exigimos respeito, queremos respostas, não tirem os nossos invioláveis direitos! Se perplexos ficaram os senhores deputados, muito mais perplexos e indignados estão os povos indígenas pelas inúmeras propostas que estão nesta casa, com o único intuito de retirar os direitos indígenas, para favorecer o agronegócio e outros interesses, minerais,madeireiras, militares com acelerada privatização das terras e águas em nosso país.

O Brasil Plural mostra sua cara

Ao ver o plenário da Comissão de Constituição e justiça cheia de cores, de corpos lindamente pintados, dando uma  bela imagem desse Brasil plural, profundo, originário. É pena que isso só seja reconhecido somente nos momentos  das cruciais lutas que os mais de trezentos povos indígenas levam adiante,  quando os processos genocidas avançam sobre seus territórios, suas vidas.
As dezenas de parlamentares que vieram prestar apoio e solidariedade aos povos indígenas no congresso destacaram esse momento bonito e crucial.
Nas inúmeras manifestações das lideranças indígenas, caciques, pajés,  a tônica foi a mesma. Querem nos matar com esses projetos de lei, portarias. Mas nós vamos resistir, lutar, até o último índio! E todos pediram que enterrem as malditas e criminosas iniciativas do legislativo e executivo.

O momento é esse, avançaremos !

Nailton Pataxó ressaltou que esse momento é semelhante ao da Constituinte, quando os inimigos dos povos indígenas  tramaram vários vezes para impedir com que os direitos indígenas fossem inscritos na nova Constituição. Só vencemos por que nos mobilizamos, viemos ao Congresso quase todos os dias, visitamos gabinete por gabinete dos parlamentares, fiemos debates e rituais aqui no Congresso, enchemos os tapetes verdes e azuis com a cara do Brasil plural, combativo e resistente. Agora estamos novamente num momento em que os nossos inimigos querem rasgar a Constituição tirando dela os direitos por nós conquistados. E  com muita firmeza  e sabedoria diz "Vamos vencer mais essa batalha! Unidos e mobilizados sairemos vitoriosos de mais essas tentativas criminosas de tirar nossos direitos."
Além da visibilidade conseguida para suas lutas e seus direitos, conseguiram do presidente da Câmara Henrique Alves, juntamente com outros parlamentares, lideres de partidos, a promessa de não indicação de membros para a Comissão especial,  que daria o parecer sobre a PEC 215 e a instalação de uma mesa de negociação com a participação paritária dos povos indígenas , para debater todas os projetos  de lei e iniciativas que dizem respeito aos povos indígenas.
Em documentoentregue ao presidente da Câmara  o movimento indígena reafirma “Não admitiremos retrocesso na garantia dos nossos direitos...Reafirmamos por tudo isso , a nossa determinação de fortalecer nossas lutas, continuarmos vigilantes e dispostos a partir para o enfrentamento político, arriscando inclusive as nossas vidas, em defesa dos nossos territórios e da mãe natureza e pelo bem das nossas atuais e futuras gerações”.
A promessa é de que hoje seja criada essa mesa de diálogo.




Povo Guarani Grande Povo
Brasilia, 17 de abril 2013

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Amazônia resiste


Triste e infeliz a pátria que não sabe acolher seus filhos, acariciar sua rica natureza e biodiversidade,  se deleitar em suas águas abundantes, ainda  limpas em grade parte, conviver harmonicamente com os animais, se deliciar com suas frutas saborosas, com seu ar puro.
A Amazônia dos amazonidas continua seriamente ameaçada, violentamente agredida,  absurdamente negada  a seus povos. A lógica da moto serra, das grandes madeireiras internacionais, das companhias mineradoras, das mega hidrelétricas, que destroem e avançam sem dó nem piedade. A civilização do boi e da soja se alastram como ervas daninhas, tombando as florestas devorando corações e mentes. A mentira do progresso impera e ilude.
Comitê da Verdade e resistência do Amazonas
Fiquei muito feliz ao voltar a Manaus e Presidente Figueiredo e sentir uma enfrentamento com os grandes interesses saqueadores das riquezas da região, na “articulação de convivência com a Amazônia”, na Coordenação dos Povos Indígenas da  Amazônia Brasileira – COIAB,  no Comitê da Verdade do Amazonas.
Abril indígena, tempo de fazer avançar a luta pelos direitos dos povos primeiros dessa bela terra, das populações tradicionais, e de todos os aliados dos ricos sistemas de vida da Amazônia, ainda na paixão, mas de pé e resistente.
Waimiri Atroari – da heróica  resistência à “prisão de ouro”
Uma das situações emblemáticas de violência e genocídio é sem dúvida a dos Kiña, Waimiri Atroari.  Por esta razão o massacre de mais de 2 mil indígenas deste povo foi o primeiro documento densamente documentado, entregue à Comissão Nacional da  Verdade. Isso já em outubro do  ano passado, pelo Comitê Estadual. Infelizmente ainda não tiveram nenhuma resposta sobre os encaminhamentos e providências, especialmente no que diz respeito ao contato com os Waimiri Atroari, para que eles pensam, com sua memória de luta e resistência dar mais densidade e consistência comprovada do massacre que sofreram por ocasião de seu território com a construção da BR 174, Manaus Caracaraí, Boa Vista de 1967 a 1977.
Já esgotados os prazos prometidos à coordenação da Comissão Nacional da Verdade, pelo indigenista da Eletrobrás e coordenador do Programa Waimiri-Atroari, o grupo  entendeu que é  o  momento de cobrar respostas efetivas, particularmente com relação à visita à terra indígena e um efetivo diálogo posicionamentos incisivos a favor dos direitos deste povo, particularmente com relação à liberdade à  participação no movimento indígena e aliados, conforme defende Egydio Schwade. Manoel Moura, índio Tucano, classificou a situação da política indigenista empresarial com relação a esse povo de “prisão de ouro”.
Também foram tomados alguns encaminhamentos com relação ao debate sobre a questão dos militares na Amazônia e a política indigenista dos governos militares. Esses temas que tem sido uma espécie de tabu, precisam ser aprofundados para que não se repitam determinadas violências, autoritarismos, prepotência com relação aos povos e populações tradicionais da região. O Comitê estadual da  Verdade está sendo um importante instrumental neste sentido.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo
Manaus, 9 de abril de 2013