ATL 2017

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domingo, 24 de março de 2013


Ditadura Cabralina

O que vimos essa semana foi uma confirmação do desprezo pela memória, pela história pelos povos indígenas da aldeia Maracanã, no belo Rio de Janeiro. Uma preliminar do jogo duro dos usurpadores dos direitos dos pobres para acalantar a festa do ricos, curiosos, turistas..A lógica dos grandes eventos esportivos por vir, se impõem inexoravelmente.  É preciso garantir, a qualquer custo,  os mega eventos.  É o rolo compressor (ditadura) e o ralo financeiro (corrupção) que prevalecerão  nos próximos tempos. Cenas de violência como os desta semana são apenas  aperitivo. Povos indígenas,  entrincheirados  nos espaços de sua memória, como o antigo Museu do Índio, danem-se. Serão apagados pela memória esportiva. Mais um gol de Cabral.

Enquanto isso, em Brasília, representantes de vários povos indígenas do nordeste, vieram dizer que continuam invadidos há mais de 500 anos, mas que jamais deixarão de lutar para que se faça justiça a seus povos, garantindo a terra e políticas públicas minimamente decentes. Seus olhares profundos, suas peles  escurecidas denunciam o massacre histórico e cultural a que foram submetidos. Que das fortunas que serão destinadas à realização dos grandes eventos esportivos - Copa das Confederações(2013), Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas (2016) não aumentem ainda mais o sofrimento e injustiças  a que são submetidos os pobres em especial os povos indígenas.

Egon Heck

Povo Guarani, Grande Povo

Semana Santa de 2012

Soem livres os tambores


Criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos

Fecharam uma porta, mas abrimos uma janela. Vamos romper o muro com que estão tentando blindar a Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados.

O Congresso , neste início de outono, voltou a se agitar. O auditório Nereu Ramos lotado,(mais de 300 pessoas) foi palco de um momento  de resistência e indignação, num ato carregado de emoção, desabafos e manifestações populares.  Cientes de que esse é um momento  difícil, quando os setores conservadores impõem mais um retrocesso, fruto de negociações e acordos partidários que achincalham essa casa do povo, impondo na presidência de uma das comissões mais importantes da Camara dos deputados, alguém que é manifestamente contrário a direitos humanos. Em tom de ironia um parlamentar  se referiu a Feliciano, com uma citação bíblica onde Jesus diz “Eu sou o caminho” e Feliciano complementa “eu sou o pedágio. Passa o cartão e a senha”.

Quando soaram os tambores dando por instalada a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, com a esperança de que seja breve, pois os dias de Feliciano  em frente à Comissão de Direitos Humanos estão contados.

Os povos indígenas e seus aliados também estiveram presentes, entregando um manifesto onde reafirmam como as demais entidades da sociedade civil que ‘vem  manifestar sua indignação e repudio diante da ocupação da presidência da CDH da Câmara dos deputados por Marco Feliciano...”, cujo perfil de manifesta xenofobia e racismo também teria se manifestado de forma colonialista dizendo “que existe muita terra para poucos índios”.

Já no final do ato foi anunciada a morte do grande cantor Emilio Santiago, que sofreu na pele o racismo e descriminação por ser negro e homosexual, lembrou com carinho um dos parlamentares. Um minuto de silêncio ao lutador que cuja voz agora irá soar mais alto.
Feliciano vai cair
As manifestações continuaram dentro e fora do plenário 9, onde houve mais uma tentativa de realizar uma sessão de trabalho, mas que acabou sendo cancelada em função das manifestações da sociedade civil dentro e fora do plenário.

Houve inclusive agressões físicas a uma das manifestantes no momento em que foram pedir ao presidente da Câmara um posicionamento a respeito desse fato que envergonha o Congresso, num flagrante retrocesso com relação aos direitos conquistados na Constituição de 1988. No texto se unem aos movimentos e organizações sociais que reivindicam a renúncia do deputado” Feliciano da Presidência da Comissão de Direitos Humanos e a recomposição da mesma com parlamentares realmente comprometidos com a defesa da vida e da dignidade dos setores secularmente marginalizados, explorados e discriminados  na sociedade brasileira”

Buscando novos espaços
 
Os povos indígenas, através da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e do Cimi também levaram as preocupações e desafios dos povos indígenas, particularmente com relação à tramitação de iniciativas anti indígenas no Congresso,  à Comissão de Legislação Participativa. A deputada Luiza Erundina acolheu e reforçou a proposta de que essa comissão faça um levantamento da realidade dos povos indígenas e promova um seminário de um dia para aprofundar a questão nesta Comissão.


 

Povo   Guarani Grande Povo

Cimi secretariado nacional


segunda-feira, 18 de março de 2013

CPI urgente da Funai


Parlamentares do agronegócio encaminharam pedido à mesa da Câmara Federal em Brasília, urgindo a realização de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, sob o pretexto de analisar a atuação da Funai e do INCRA nos procedimentos de regularização das terras indígenas e quilombolas. O requerimento foi encaminhado pelo deputado Valdir Colatto, de Santa Catarina,  e outros parlamentares conhecidos por suas ações contra os direitos dos povos indígenas.
Na verdade trata-se de mais uma iniciativa da bancada ruralista e evangélica, que proclama ter 42% dos membros da Câmara dos Deputados. É mais uma ação dentro da estratégia de impedir o reconhecimento do direito dos povos indígenas e quilombolas às suas terras, conforme garante a Constituição.

Porque esses zelosos parlamentares não se apressam em pedir uma CPI da soja, do boi ou da cana? Esses sim os verdadeiros destruidores do meio ambiente, com  intensivo envenenamento da terra e dos rios e das populações, geradores de processos de violência e expulsão dos camponeses, índios e quilombolas.
Essa semana a bancada anti-indígena no Congresso se mobilizou com iniciativas no sentido de fazer avançar os projetos que visam tirar os  direitos indígenas da Constituição e garantir o avanço  dos interesses do agronegócio. Assumiram a presidência da Comissão responsável pela aprovação do Conselho Nacional de Política Indigenista -CNPI, solicitaram a formação da Comissão Especial para dar sequencia à PEC 215 que visa passar para o Congresso a demarcação das terras indígenas. Assumiram a presidência da Comissão de Direitos Humanos, que tem sido um espaço dos movimentos sociais. Pastor Feliciano,para a infelicidade dos povos indígenas, quilombolas, e outras minorias.

Mobilização contra a "ameaça de demarcação das terras indígenas"

Tacuru, pacata cidade da fronteira com o Paraguai, teve sua  rotina rompida pelo braço do agronegócio aliado a setores políticos e econômicos locais, mobilizados contra o direito dos índios à terra. Centenas de locomoveis de diferentes calibres e matizes, desfilaram pelas ruas da cidade, destilando ódio e preconceito contra os índios em luta pelos seus direitos e suas terras, e aos que os apoiam.
O antropólogo do agronegócio,Hilário Rosa, munido com seu arsenal de preconceitos e interesses pessoais, afirmou que "estão fraudando laudos e importando índios do Paraguai para reforçar a “massa de manobra” nos processos de invasões de terras" (Gazetanews, 8-03-2013)
Porque estamos em Brasília

Em carta às autoridades com as quais solicitaram audiência expressam os motivos que os fizerem  voltar ao campo de batalha , em Brasília e pedem que" Ñanderu Tupãngusu proteja a viagem dessa comitiva de lideranças Guarani-Kaiowá que estão levando as demandas urgentes e decisões da Aty Guasu para autoridades federais de Brasília-DF".

"Essa viagem das lideranças urgente à Brasília-DF ocorre diante de cerco de pistoleiros das fazendas e, sobretudo a ameaça de morte constante de todas as comunidades Guarani-Kaiowá de tekoha guasu reocupadas/retomadas. De modo planejado e violento, começou acontecer os vários tipos de ataques violentas, pressões, intimidações sobre as comunidades Guarani-Kaiowá de áreas reocupadas em litígio do sul de MS/faixa de fronteira de Brasil com Paraguai. Os novos prefeitos do sul de MS estão se manifestando publicamente contra as demandas Guarani-Kaiowá, alimentando mais violências e misérias contra os Guarani-Kaiowá, além de aumentar publicamente a discriminação, estigma e racismo...Hoje, nós sobreviventes indígenas ficamos sem espaço de terras tradicionais, sobrevivemos nas margens das rodovias e nos acampamentos em que somos isolados e ameaçados pelos pistoleiros das fazendas e somos condenados à morte pelas ações dos fazendeiros-políticos do Sul de MS..."
 Em seus diversos contatos deixaram claro "Não estamos aqui para negociar ou fazer acordos. Viemos exigir nossos direitos. Não vamos parar as retomadas." Pediram ao governo que não lave as mãos diante de tanto sofrimento e que mantenha um canal de informação e diálogo direto e permanente. "Só os fazendeiros vinham aqui na Casa Civil para falar da situação.", diz Otoniel.

Apesar de não terem conseguido audiência com o Ministro Joaquim Barbosa, entendem que é ali no Supremo Tribunal de Justiça, que se encontram os impedimentos da não demarcação  onze terras Kaiowá Guarani. Por isso esperam agilidade deste Tribunal no julgamento das ações.

 CARTA DA 42ª ASSEMBLEIA GERAL DOS POVOS INDIGENAS DE RORAIMA

 Os povos indígenas de Roraima estão realizando assembleias de suas lideranças, tuxauas, desde o início da década de setenta. Em 1977 sua Assembleia teve a presença de indígenas de outras regiões do país e de aliados, como o presidente  do Cimi.  Ela foi dissolvida pela Funai e a polícia. Conseguiram uma das vitórias mais expressivas das últimas décadas, com a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, onde tiveram o encontro na semana passada com a participação de 1.256 pessoas de 153 comunidades e aliados. Na carta fazem exigências sobre seus direitos e assumem compromissos de continuidade da luta.

 “Queimaram nossas casas, mataram nossos parentes, mas não destruíram nossos sonhos”, assim se manifestam os que sofreram ações criminosas contra as comunidades para desistirem do reconhecimento das terras indígenas. As violências sofridas pelas comunidades indígenas continuam impunes.

Em vista de todos os pontos apresentados, os Povos Indígenas do Estado de Roraima, dada a importância de um diálogo aberto, franco e transparente, estão requerendo uma audiência das lideranças indígenas com a Presidenta da República Dilma Rousseff e seus ministros, para tratar e discutir as demandas, propostas e projetos de desenvolvimento sustentável para as comunidades indígenas. exemplo disso é a absolvição dos acusados do assassinato do Macuxi Aldo da Silva Mota, no Tribunal do Júri em Roraima, que manifestaram opiniões contra a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.

Fortalecendo o Bem Viver dos Povos Indígenas com a Terra, a Cultura e o Meio Ambiente"

Egon Heck

Povo Guarani Grande Povo


Secretariado do Cimi, Brasília, 16 de março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

Kurusu Ambá : amor, ódio e omissão


Relembro com muito carinho e extrema preocupação, o doloroso caminho dessa comunidade indígena Kaiowá Guarani, na fronteira com o Paraguai, no município de Coronel Sapucaia, campeão brasileiro no ranking de violências.
Já completaram seis anos desde o momento resoluto e crucial da volta à sua terra natal, no tekohá Kurusu Ambá. Depois de décadas de luta e reivindicação de sua terra, a única opção que lhes restou, para exigir do Estado brasileiro o cumprimento  da Constituição demarcando suas terras, foi  voltarem para onde as cruzes sagradas de seus antepassados estavam plantadas.  Quando no dia 9 de janeiro de 2007, assassinas armas de fazendeiros e pistoleiros tiraram a vida da Nhandesi Xurete Lopes, iniciou-se a “via crucis” mais dolorosa de uma comunidade Kaiowá Guarani, nas últimas décadas.  Já foram cinco vidas ceifadas, vários feridos e um rosário de sofrimento sem fim.
A fome e a incerteza marcaram esses seis anos gerando momentos belíssimos de amor, de solidariedade e de luta destemida pelos seus direitos. A omissão do governo em avançar com urgência, na identificação e demarcação da terra e da justiça em punir os criminosos,  fez com que se gerassem tensões  na comunidade. E agora, quando  buscam um pequeno espaço, dentro do acordo feito na justiça, para oxigenar a esperança e sarar feridas, são novamente ameaçados pelo latifúndio e agronegócio.
A alegria, mesmo em momentos mais difíceis, sempre esteve estampada no face e coração dessa gente sofrida, principalmente das crianças.

Voltam a ser ameaçados, odiados e criminalizados, numa das mais sórdidas violências e ataques à vida e direitos de uma comunidade indígena  no país.
O cinismo do Estado chega ao ponto de levar ao banco dos réus vários membros da  comunidade, numa nítida armação, quando sequer  foram concluídos os  inquérito dos assassinos de Xurete, Ortiz e demais lideranças. A impunidade estimula violência, a omissão gera  tensões,  a morosidade é criminosa quando põem em risco a comunidade.

Egon Heck
Cimi, secretariado nacional
Povo Guarani Grande Povo, quaresma de 2013

quinta-feira, 7 de março de 2013

Direitos Humanos não se negocia, se defende!


Um densa nuvem se formou sobre Brasília no início da tarde desse dia 6 de março.  Parecia sinal de algo pesado no ar. No Congresso Nacional, na sala da Comissão de Direitos Humanos, uma disputa acirrada. A presidência da Comissão, de grande importância para a Casa (e nem tanto para a lideranças de partidos que tradicionalmente estiveram na presidência desse espaço das aspirações de amplas camadas do povo brasileiro e aguerridas minorias).

Sala apinhada de manifestantes de combativos setores e povos, que não admitiam ver a presidência cair em mãos de parlamentar publicamente defensor de teses racistas, fascista  e homofóbicas. O deputado pastor  Feliciano do PSC, era o indicado pelo partido para assumir a presidência. A urna sobre a mesa demonstrava em torno do que estava havendo disputa. Após algumas manifestações dos parlamentares, a favor da suspensão da sessão, em função de infringir  artigos do regimento interno, e outros, evangélicos, com pressa de que se consumasse o fato, o presidente da mesa,  deputado José Domingos Dutra, suspendeu a sessão.

Manifestações dentro e fora do plenário da Comissão de Direitos Humanos exigiam respeito a esse espaço do povo, rejeitando  o racismo, evitando retrocesso. Parlamentares pouco afeitos à democracia, chegaram a expressar seu desejo de que não mais houvesse a presença de representantes da sociedade organizada, que com apitos e gritos tentaram impedir a consumação do retrocesso.  Importantes manifestações como de Nilmário Miranda, primeiro presidente dessa Comissão, bem como de Ivan Valente,  Jean  e Erika Kokai, tiveram influencia decisiva na suspensão da sessão, transferindo a votação para hoje.

sábado, 2 de março de 2013

Eu matei Denilson Kaiowá Guarani



Ao  declarar-se autor do disparo que matou o jovem Denilson no tekohá Pindo Roky, município de Caarapó no dia 17 de fevereiro, o fazendeiro  Orlandino, inaugura uma nova estratégia.  Estaria ele apostando abertamente na impunidade?  Se for essa uma nova estratégia do agronegócio porque não se apresentam os assassinos dos professores Genivaldo e Rolindo Vera?  e declaram onde esconderam o corpo Rolindo? Porque não se apresentam os matadores do cacique Nisio Gomes e revelam onde ocultaram seu corpo? Porque não se apresentam os matadores de  Julite, de Ortiz e dezenas de Kaiowá Guarani nas últimas décadas? Será essa uma forma de despolitizar os crimes na luta pela terra?
O Deputado  Ze Teixeira, que tem fazenda incidindo na terra indígena Guyraroká, declarou". “Ora, o senhor Orlandino já se apresentou à Polícia Civil e confessou que foi o autor do disparo que acabou tirando a vida do adolescente, então que ele responda pelos atos sem que isso sirva como justificativa para invadir a propriedade dele. .... Não existe necessidade de proteger testemunha porque o crime já está esclarecido, o produtor se apresentou espontaneamente e está à disposição da Justiça” ( O progresso, 28-02-13)

Solidariedade nacional e internacional
Antes que fevereiro findasse e o papa deixasse definitivamente o Vaticano, uma  delegação de mais de uma dezena de entidades nacionais e internacionais foram ao tekohá Pindo Roky para se inteirar pessoalmente dos fatos e prestar sua total e irrestrita solidariedade ao povo Kaiowá Guarani.
" A comitiva é composta pela Anistia Internacional, Justiça Global, Plataforma Dhesca Brasil, FIAN Brasil, Sesi, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) que foi acompanhada de lideranças indígenas Kadiwéu, do Conselho Terena, do Conselho Continental da Nação Guarani e da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)... O documento irá denunciar, em nível internacional, a execução do jovem Kaiowá pelo proprietário da fazenda no último dia 17, convocando governo e sociedade civil a defenderem de maneira intransigente o "direito à vida, à integridade física e mental, da liberdade e da segurança dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul". Para as entidades, o crime e a realidade em que vivem os indígenas do estado representa uma situação de permanente violação dos direitos humanos, e de flagrante descumprimento da Constituição Federal e dos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário" (Midiamax,  27-02-13)
No manifesto Em defesa da Vida declaram "Diante da vergonhosa situação imposta a esses seres humanos é necessário  declarar que as entidades baixo subscrevem apoiam incondicionalmente a defesa da posse das terras  tradicionais pelos povos indígenas, bem como apoiam a demarcação das terras indígenas e do amplo acesso desses povos aos recursos nelas existentes, única forma de colocar fim às violações de direitos e à violência contra que vem sendo imposta a esses povos, sendo urgente que o Estado brasileiro, através do governo federal assuma as obrigações constitucionais de respeitar, proteger e garantir a vida e os direitos humanos dos

povos indígenas". Omanifesto é assinado pela Associação Juízes para a Democracia – AJD, Anistia Internacional no Brasi, Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Conselho Federal de Psicologia - CFP,Coordenadoria Ecumênica de Serviços - Cese, Comissão Pastoral da Terra - CPT, Comissão Regional de Justiça e Paz - CRJP, Justiça Global - JG, Plataforma Dhesca Brasil,Rede de Informação e Ação pelo Direito a se Alimentar - Fian Brasil, Survival International,Comitê Nacional de Defesa dos Povos indígenas de Mato Grosso do Sul – CONDEPI
A ousadia sem limites do agronegócio
Neste mês de fevereiro o bancada ruralista , do agronegócio deu mais uma mostra de suas insaciáveis intenções de impedir a demarcação das terras indígenas, expressa pela Katia Abreu do CNA (Confederação Nacional da Agricultura) "Kátia Abreu, reuniu-se ontem (21/02), no Palácio do Planalto, em Brasília, com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, para pedir a suspensão dos processos de DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS até que sejam julgados todos os embargos declaratórios do caso RAPOSA SERRA DO SOL."
O Parlamentar do Paraná, Nelson Padovani teve a brilhante iniciativa de propor um projeto de lei 237/2013 que torna possível a" posse indireta de até 50% das terras indígenas para produtores rurais, na forma de concessão."
Delegações de políticos, ruralistas, sindicalistas rurais da região da fronteira, vieram a Brasília pedir providências, contra  o que qualificam de invasões de paraguaios que se dizem índios e vem usufruir dos benefícios da cesta básica,  e das  ongs de interesses escusos.  Trata-se de iniciativas que visam dificultar o reconhecimento das terras e territórios dos povos indígenas no Mato  Grosso do Sul.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo, Cimi 1 de maço de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

Povos Tradicionais: união nas lutas


Quando no início da década de 70 os povos indígenas do Brasil começaram romper a grande cerca do isolamento e silêncio a que estavam confinados, não podiam imaginar que quatro décadas depois essa união estaria se estendendo aos povos e comunidades tradicionais de todo o país.
Para Ninawá Hunikui, do Acre, esse é um momento histórico, pois "o mundo está doente, precisa de cura". E os povos indígenas vem enfrentando e denunciando esse sistema há décadas, numa resistência secular e sabedoria milenar. E agora estão aí com os quilombolas, pescadores artesanais,  ribeirinhos, quebradeiras de coco, dentre outros, partilhando lutas e esperanças, construindo a união indispensável para enfrentar os poderes que os oprimem e insistem  em negar seus direitos. "A senzala não acabou. A escravidão continua", denunciam os participantes.
Na medida em que as realidades doídas, lutas sofridas, violências e resistências foram sendo partilhadas  ia ficando claro que só tem um caminho para reconquistar a liberdade e Bem Viver: lutar unidos pelos territórios livres.
Quando foi relatado e mostrado a violência que a marinha está cometendo há 40 anos contra a comunidade quilombola de Rio dos Macacos, na Bahia, uma grande indignação e revolta tomou conta do auditório. Foi aprovado uma moção de repudio ao que qualificaram de ações e políticas nefastas e genocidas.
Diante das narrativas de agressões, invasões, destruições e mortes em decorrência do insaciável avanço dos interesses do agro e hidronegócio, do grande capital, não basta botar a boca no trombone, denunciar, é preciso união para agir e pressionar os três poderes do Estado, que se colocam a serviço desse projeto de morte e opressão.
Na manhã do dia 28 uma delegação dos participantes do Seminário "Os territórios das Comunidades Tradicionais e o Estado Brasileiro Tiveram  encontro com o presidente da Câmara dos Deputados e o líder do PT, entregando documento com  suas  apreensões sobre os projetos que pretendem  desconstruir direitos dos povos e comunidades tradicionais, impedindo o reconhecimento dos territórios e promovendo a invasão e saque dos recursos naturais nas terras já reconhecidas.
Dentre as  principais deliberações ficou a ampliação da solidariedade entre os povos a partir das situações mais dramáticas, a formação política, ampliação das alianças e mobilizações desde nível nacional até internacional.
Segue a carta, na íntegra


CARTA DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS
“O mundo está doente; precisa de cura” (Ninawa, Hunikui, Acre)
No âmbito dos eventos da V Semana Social Brasileira e do Encontro Unitário dos Povos do Campo, das Águas e da Floresta, nós, povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais, seringueiros, vazanteiros, quebradeiras de coco, litorâneos e ribeirinhos, comunidades de fundo e fecho de pasto e posseiros de todo o Brasil, mulheres e homens de luta, nos encontramos em Luziânia GO, nos dias de 25 a 28 de fevereiro, para partilhar cruzes e esperanças e repensar as nossas lutas frente ao avanço cada vez mais acelerado e violento do capital e do Estado sobre os nossos direitos.
Vivemos o encontro como um momento histórico, que confirma a realidade indiscutível de uma articulação e aliança entre povos indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e camponeses. O diálogo entre povos e comunidades que expressam culturas e tradições diferentes, frequentemente marcadas por preconceitos e rejeição, volta-se para a defesa e reconquista dos nossos territórios.  Este é o processo que unifica sonhos e estratégias na construção de um País diferente que se opõe à doença capitalista do agro e hidronegócio, mineração, hidroelétricas, incentivada e financiada pelo Estado, em nome do chamado desenvolvimento e crescimento do Brasil.
Não nos deixaremos curvar pelo avanço insaciável do capitalismo com o seu cortejo de políticas governamentais nefastas e genocidas. Território não se negocia não se vende não se troca. É o espaço sagrado onde fazemos crescer a vida, nossa cultura e jeito de viver, nos organizar, ser livres e felizes. “Territórios livres, já!!!”.

“A senzala não acabou. Ficamos livres das correntes e dos grilhões, mas continuamos presos ao cativeiro do sistema”. (Rosemeire, Quilombo dos Rios dos Macacos, Bahia)

Constatamos, mais uma vez, com dor e angústia, o retrocesso armado pelos três poderes do Estado para desconstruir, com leis, portarias, como a 303, PEC 215, ADIN 3239, e decretos de exceção, a Constituição, que garante, em tese, os nossos direitos territoriais e culturais. É revoltoso e doído o que estamos passando nas nossas aldeias, quilombos e comunidades: nossos territórios invadidos, a natureza sendo destruída, nossa diversidade cultural desrespeitada e a sujeição política via migalhas compensatórias. Querem nos encurralar! Sofremos humilhações, violências, morte e assassinatos, o que nos leva a tomar uma atitude.
O primeiro passo para uma verdadeira libertação do cativeiro a que estamos submetidos, é continuar o diálogo intercultural, para conhecermos melhor nossas diversidades, riquezas e lutas. Segundo passo é encontrarmos estratégias de unificação de nossas pautas para a construção de uma frente unificada, que possa se contrapor, com eficácia, ao capital e ao Estado, a partir de mobilizações regionais dos povos indígenas e das populações do campo, das águas e da floresta.

Estamos de olho nas ações dos três poderes do Estado brasileiro, para nos defendermos do arbítrio da desconstrução dos direitos e da violência institucional e privada.
Diante da total paralisia do Governo Dilma em cumprir a Constituição e na contramão da legislação internacional (OIT 169) que decretam o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais, exigimos a imediata demarcação e titulação dos nossos territórios.

Acreditamos que a nossa luta, na construção de projetos de Bem Viver, é sagrada, abençoada e acompanhada pelo único Deus dos muitos nomes e pela presença animadora dos nossos mártires e encantados.

Luziânia, 28 de fevereiro de 2013